Folha de S. Paulo


Arquitetura de Rino Levi merece mais atenção

Inês Bonduki - 26.out.2016/Folhapress
Prédio Trussardi, na avenida São João, na região central
Prédio Trussardi, na avenida São João, na região central

Prédio aristocrático e distinto. Salão nobre de espera. Ponto central na Cinelândia, junto a inúmeros restaurantes, lojas, mercearias e feiras. Localização ESPLÊNDIDA". O anúncio de venda dos 33 apartamentos de dois quartos do edifício Trussardi, de 1948, revela a enorme transformação da região. Mas nem a má conservação impede que se vejam os traços elegantes e racionalistas do arquiteto Rino Levi (1901-1965).

Essa fachada poderia estar melhor se a lei Cidade Limpa tivesse seguido os passos da de Barcelona, que a inspirou. Lá, com a proibição dos outdoors, foi feita uma exceção: empresas que patrocinassem o restauro de fachadas históricas poderiam colocar seu logotipo nas telas de proteção da reforma. Barcelona recuperou 600 prédios assim. Aqui, nem o Copan consegue ter uma fachada conservada.

Rino Levi projetou o edifício no início dos anos 1940, com espaço para lojas e restaurante no térreo, sem recuos, rente à calçada, como o bom urbanismo da época pedia.

O arquiteto já tinha desenhado quase 20 residenciais na primeira década de seu escritório, aberto em 1927, logo após ele retornar da Itália, onde estudou. O filho de judeus italianos projetou em 1930 o primeiro condomínio de apartamentos de São Paulo, o edifício Columbus, na Brigadeiro Luís Antônio, aberto em 1934 (foi demolido em 1971, por uma obra viária na gestão de Paulo Maluf). E um dos melhores de Higienópolis, o Prudência, projetado em 1944, feito junto com seu grande amigo Burle Marx, com quem fez várias obras.

Rino foi o arquiteto moderno mais versátil da história de São Paulo. Além das dezenas de casas e edifícios residenciais, fez vários cinemas (como o Ipiranga e o Art-Palácio), o teatro Cultura Artística, hospitais (do Câncer, Albert Einstein), sedes de empresas (o Banco Sul-Americano, atual Itaú, na Paulista com a Frei Caneca), o Centro Cívico de Santo André, a sede do Instituto de Arquitetos do Brasil e o Instituto Sedes Sapientiae, atual PUC. Em um escritório profissionalizado, formou vários discípulos. Era reconhecido pelo conforto térmico e acústico de suas obras, um tema que se perdeu em algumas gerações posteriores.


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