Folha de S. Paulo


A velocidade para quem mais precisa desapareceu da campanha a prefeito

Crianças eram mordidas por ratos nos barracos dependurados sobre o córrego do Sapé, vizinho do Butantã. As favelas ali surgiram como a moradia possível para os operários que construíram a USP, nos anos 60.

Estão cercadas pela Chácara do Jockey e as torres de luxo vizinhas ao Raposo Shopping. O lixo jogado no Sapé alcança fácil o Rio Pinheiros.

O riacho agora anda bem mais limpo e predinhos para os moradores esperam o acabamento. Essa rara iniciativa de reurbanização de favelas, que oferece teto digno na própria comunidade e limpa os córregos está ameaçada por uma brusca desaceleração de investimentos. Mas os candidatos só falam da velocidade nas Marginais.

Em 2010, depois de alguns anos de estudo, quase 1500 famílias foram retiradas daquela área de risco. As secretarias municipais de Habitação e do Meio Ambiente planejaram apartamentos para quem precisou ser removido de área de risco, e um parque linear ao longo do córrego.

Verbas federais do PAC financiaram esses programas. A estadual Sabesp começou a despoluir o rio enquanto a prefeitura retirava o entulho.

Até um escritório de arquitetura, o Base 3, foi contratado para desenhar a intervenção que melhora a vida de 2500 famílias (projeto premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, APCA, em 2014).

Pelas ironias da política partidária, a torneira de dinheiro federal quando o prefeito era Gilberto Kassab virou conta-gotas sob Fernando Haddad (e Dilma sucedeu Lula). Segundo o site "De olho nas metas", da organização Nossa São Paulo, só foi realizado 8% do projeto de reurbanização no vizinho córrego da Agua Podre, licitado junto com a segunda parte do Sapé.

O programa corre risco de marcha-ré: as famílias removidas passaram a receber R$ 400 para pagar aluguéis temporários enquanto esperavam seus apartamentos. Mais de cinco anos depois, a inflação e a demanda dificultam renovar a locação por esse valor. O gasto com a Bolsa Aluguel disparou com os atrasos.

Em outras favelas com projetos prontos, as obras empacaram: a reurbanização do Cabuçu de Cima, na zona norte, é aguardada por quase 19 mil famílias. Apenas 2,5% da obra foi feita.

A tal parceria entre município e Sabesp para despoluir mais de 150 córregos (a primeira recolhe entulho, a segunda trata a água), que melhora a vida de 2,3 milhões de paulistanos residentes nessas áreas, não foi renovada pela prefeitura, e a Sabesp reduziu esse orçamento. A criação de parques lineares para proteger os córregos foi freada.

Haddad já teve quatro diferentes secretários de Meio Ambiente. Nos três primeiros anos de sua gestão, a Habitação ficou nas mãos do malufista PP.

A queda nos repasses federais nos últimos três anos fez várias vítimas. Das 55 mil unidades habitacionais prometidas no início do governo, só 12 mil foram entregues. Número equivalente aos últimos quatro anos de Kassab, mas metade da gestão Marta.

Do jeito que anda, a prefeitura terá que comemorar se entregar um quarto do que prometeu. Essa velocidade para quem menos tem, porém, não parece sensibilizar candidatos e eleitores da esquerda à direita.


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