Folha de S. Paulo


Paris ensina a São Paulo o que fazer com imóveis públicos ociosos

Mark Lennihan/Associated Press
High Line, área de Nova York que foi revitalizada
High Line, área de Nova York que foi revitalizada

"Reinventar Paris". Esse é o nome do concurso que a prefeita socialista da capital francesa, Anne Hidalgo, criou para tirar da ociosidade 23 grandes propriedades municipais.

A prefeitura decidiu leiloar esses imóveis, de edifícios históricos a antigas garagens. Venceriam os projetos que causassem maior impacto urbano na cidade -o critério único não seria a soma oferecida por um bilionário saudita ou por um novo shopping.

Em pouco mais de 12 meses, do final de 2014 a fevereiro deste ano, a seleção de 650 propostas foi feita (quando se compete com Londres e Berlim por investimentos e talentos, não se perde tempo).

A prefeitura topou vender os imóveis abaixo do valor do mercado (mas arrecadou 565 milhões de euros), 1.341 apartamentos serão criados (675 de moradia popular) e algumas belíssimas construções já ficam prontas em 2020.

Serão novos mercados, hotéis, residenciais e muitos espaços de co-working (escritórios compartilhados). Vários com jardins verticais e hortas nas coberturas, refresco urbano que agradou os jurados e com arquitetura muito acima da média do que normalmente é construído. Até artistas, como Olafur Eliasson, participaram de projetos vencedores.

Animada com o resultado, Anne Hidalgo já anunciou um novo chamamento, o "Reinventando o Sena", com propriedades às margens do rio.

"A prefeitura reconheceu a ociosidade dos bens e de que é menos eficiente em gerir esses ativos, mas também forçou o mercado imobiliário a ser inovador", diz Philip Yang, do paulistano Instituto Urbem, que concorreu em Paris, associado a investidores e arquitetos locais e estrangeiros (a última edição da revista Monolito mostra os projetos do consórcio brasileiro).

Do Millenium Park, em Chicago ao High Line, em Nova York, abundam exemplos de bens públicos transformados por parcerias privadas.

Já imaginou a quantidade de imóveis subaproveitados em São Paulo, dormindo nas mãos da prefeitura, do governo estadual e até do federal? Do Campo de Marte às garagens da Luz, mais velhas repartições e áreas junto a linhas férreas vegetam.

Como Dilma foi mais generosa com o PMDB carioca que com o prefeito de seu próprio partido, vários projetos de Haddad não tiveram verba para sair do papel (Arco do Futuro, do Tietê, novo Anhangabaú). A lista na gaveta cresce se incluirmos o "Nova Luz" e o novo Parque D. Pedro da gestão passada.

Mas boa parte de nossa intelectualidade tem bloqueio a estudar opções que envolvam o mercado, mesmo quando o Estado está quebrado -ao contrário da ousada socialista francesa. Aprender com Paris é um antídoto para a sombria campanha municipal que se avizinha.


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