Folha de S. Paulo


Meirelles, qual é o tamanho do calote da Venezuela?

O ministério da Fazenda, comandado por Henrique Meirelles, se recusa a divulgar o tamanho do calote potencial da Venezuela para o Brasil.

Se não for novamente resgatado por China e Rússia, o país caribenho, que já vive uma crise humanitária alarmante, está às portas de um dos maiores defaults da história.

Por conta da falta de transparência do governo de Nicolas Maduro, não existem números confiáveis na Venezuela, mas os economistas estimam que a dívida total chegue a US$ 150 bilhões. Uma fatia dessa conta é do Brasil, mas o ministro não quer nos dizer quanto.

Graças ao trabalho da imprensa, o pouco que se sabe até agora é que a Venezuela já deixou de pagar uma parcela de US$ 262 milhões que devia ao Brasil por meio do CCR (Convênio de Créditos Recíprocos) - uma espécie de câmara de compensação dos bancos centrais latino-americanos.

O governo brasileiro tentou enviar uma missão para renegociar esse valor, mas a equipe de Maduro se esquivou e o assunto foi parar no Clube de Paris. Ou seja, o Brasil não vai receber esse dinheiro tão cedo e provavelmente a Venezuela não pagará as parcelas ainda por vencer.

Quanto somam essas parcelas? Durante os governos Lula e Dilma, só o BNDES se comprometeu a emprestar US$ 3,2 bilhões ao governo venezuelano para financiar obras da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, construtoras envolvidas na Lava Jato, no país caribenho.

Mas quanto desse dinheiro foi efetivamente liberado? Quanto desses empréstimos já foram quitados? E, principalmente, qual é o saldo devedor? BNDES, Itamaraty e Desenvolvimento encaminharam o assunto para a Fazenda, que se recusou a responder.

Além disso, várias empresas brasileiras tomaram calote na Venezuela. Venderam produtos aos importadores venezuelanos, que pagaram por eles, mas tiveram seus dólares retido pelo Banco Central local. Sob condição de anonimato, técnicos do governo dizem que o prejuízo total do Brasil pode chegar a US$ 5 bilhões, mas reconhecem que é apenas uma estimativa e dizem que só a Fazenda dispõe do dado correto.

Por motivos inexplicáveis, no entanto, a equipe de Meirelles se recusa a informar o número. Não cabe aqui o argumento de que se trata de sigilo bancário. Não estamos solicitando informações sobre operações específicas, mas a perda total provocada para o país pelo apoio do PT ao chavismo.

Boa parte desse prejuízo vai cair no colo dos contribuintes, porque os empréstimos feitos pelo BNDES são garantidos e subsidiados pelo Tesouro Nacional. Ou seja, em caso de calote, o banco tem o direito de acionar o Fundo de Garantia à Exportação, gerido pelo ministério da Fazenda, e exigir que o rombo seja coberto com recursos orçamentários.

Se a conta vai ser dividida entre todos, por que não temos direito de saber a fatia que nos cabe? Meirelles poderia até divulgar os números e alegar que não é responsável pelo problema, já que os empréstimos foram feitos em gestões anteriores, mas mantém os dados em sigilo. Por quê? O buraco é tão grande assim?


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