Folha de S. Paulo


A Faria Lima perdeu a paciência com Brasília

Bruno Santos/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 16.03.2017: AVENIDA-SP - Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/Folhapress)
Prédios na avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo

A lógica do mercado financeiro é se antecipar à economia real. É considerado um gestor hábil quem adivinha os rumos do país e vende ou compra ativos na hora certa. A banca já fez suas apostas e, se estiverem corretas, uma lufada de otimismo está, paradoxalmente, soprando sobre o Brasil.

Já faz algum tempo que a Bolsa sobe e o real se mantém estável, apesar das confusões de Brasília. A tramitação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer foi acompanhada nesta semana com enfado nos envidraçados escritórios da Faria Lima, no centro financeiro de São Paulo.

O presidente está longe de ter admiradores entre os banqueiros, que não têm dúvida de que seu governo é corrupto. Só que neste grupo o pragmatismo é rei: se a denúncia não vai dar em nada —como de fato não deu— por que perder tempo com isso?

Em entrevista à Folha, Patrice Etlin, sócio da Advent, fundo americano que investe bilhões no Brasil, resumiu o sentimento do mercado financeiro em relação aos políticos: "Nos deixem trabalhar e não nos atrapalhem mais."

Ele tem motivos para reclamar. A instabilidade gerada pelas denúncias de corrupção faz com que o país aproveite menos a farta liquidez internacional. O capital está migrando para os países emergentes em busca de melhores taxas de juros, o que explica a desconexão entre o mercado financeiro e a situação do país, que só agora começa a se recuperar de três anos de recessão.

Outro importante banqueiro disse a esta colunista que acredita que uma mudança mais profunda está em curso: os brasileiros estão cansados de depender do Estado. Ele conta que vê mais casos de empreendedorismo e de setores com bom desempenho, apesar da inépcia do governo.

Se estiver correto, é uma mudança imensa para um país no qual, até pouco tempo, o sonho da pessoa física era passar num concurso público e da pessoa jurídica conseguir um empréstimo camarada no BNDES.

Na visão desse banqueiro, que prefere permanecer no anonimato, o Estado quebrou e as pessoas começaram a perceber que não é mais viável deixar o seu futuro nas mãos do governo.

Talvez ainda seja cedo para apostar em uma transformação tão profunda. Será que esse movimento vai persistir quando a economia voltar a crescer e a arrecadação se recuperar? Provavelmente ainda teremos muitas idas e vindas, mas oxalá o mercado financeiro esteja prevendo o futuro.


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