Folha de S. Paulo


Quem paga R$ 17 mil por mês para um recém-formado?

Já diz o ditado popular que é na crise que surgem as oportunidades. Foi o que aconteceu nesta semana, quando o governo brasileiro reviu a meta de ajuste das contas públicas.

No afã de cortar gastos para cobrir o rombo, a administração Temer se propôs a corrigir uma grave distorção da economia brasileira: os altos salários iniciais dos servidores públicos.

É mais fácil de entender com um exemplo. Um gestor governamental, que atua nos diversos ministérios aprimorando as políticas públicas, inicia a carreira ganhando R$ 16.933,64.

OK, sei que é difícil de acreditar, então vou repetir. O Estado brasileiro paga com os impostos dos contribuintes quase R$ 17 mil para um recém-formado, sem experiência.

O ministério do Planejamento comparou esse valor com os salários iniciais de profissões similares no setor privado. Os economistas recebem, em média, R$ 6.392 no início da carreira. Os administradores e contadores ganham um pouco menos, R$ 4.591 e R$ 4.281, respectivamente.

Auditores fiscais, analistas tributários, entre outros, também têm altos salários iniciais no Poder Executivo. A situação é parecida ou até pior no Legislativo e no Judiciário, que não foram incluídos na proposta de reforma do governo.

Ao observar essa disparidade, fica fácil entender por que os concursos públicos se tornaram uma febre entre os estudantes, surgindo uma rede de escolas especializadas em prepará-los para as provas.

É desejável que o setor público atraia jovens talentosos, mas, de qualquer ponto de vista, não faz sentido os contribuintes brasileiros gastarem essa fortuna.

Outro ponto importante: o jovem servidor público não tem qualquer estímulo a fazer um bom trabalho. Mesmo que ele cruze os braços, chegará ao topo da carreira rapidamente recebendo espantosos R$ 24.142.

No mercado privado, um salário como esse só é alcançado por 1% da população depois de uma vida de trabalho.

A proposta do governo é equiparar os salários iniciais do Executivo ao mercado privado, girando em torno de R$ 5.000. Antes que alguém diga que é pouco, vale lembrar que só os 10% mais ricos do Brasil recebem acima desse valor.

Além de ser justa, a reestruturação das carreiras do serviço público do Poder Executivo economizaria R$ 18,5 bilhões em cinco anos. Daí você deve imaginar: ufa, finalmente isso vai acabar!

Não é bem assim. Desgastado pela crise política provocada pelas denúncias de corrupção, o governo Temer enfrenta dificuldades para aprovar qualquer medida no Congresso.

Esse tipo de reestruturação, que afeta diretamente os interesses do funcionalismo, enfrentará forte resistência. É pouco provável que nossos nobres deputados aproveitem para fazer desse limão uma limonada.


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