Parece ter surgido entre deputados e senadores uma força ainda mais poderosa do que o medo de não se reeleger: a necessidade de salvar a própria pele. Só isso explica a total desconexão entre o Congresso e a população no governo Michel Temer.
Pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana mostrou que 83% dos brasileiros acreditam que Temer teve envolvimento direto nos esquemas de corrupção e69% consideram sua gestão ruim ou péssima.
É evidente que a Justiça não deve se pautar pela opinião pública, mas causa espanto que, apesar da rejeição maciça, seja pouco provável que a denúncia do procurador-geral, Rodrigo Janot, consiga o apoio necessário para afastar Temer do cargo.
Nesta quinta-feira (29), apenas 10 dos 513 congressistas acompanharam a leitura da denúncia no plenário da Câmara —um evento de enorme repercussão política já que é a primeira vez que um presidente é acusado de corrupção no exercício do cargo.
Como já defendi algumas vezes neste espaço, é vital afastar Temer para que qualquer investigação a seu respeito seja feita com isenção.
Na Presidência, ele tem poderes para escolher seus próprios juízes e acusadores. Apontar a subprocuradora Raquel Dodge como sucessora de Janot é apenas o exemplo mais contundente.
Mas parece que nada disso importa ao Congresso. Com as evidências se avolumando contra Temer, os deputados dizem que continuam ao seu lado porque o Brasil não pode parar.
Até o mais crente dos brasileiros já percebeu que se trata de desculpa esfarrapada.
O que move boa parte dos políticos é puro instinto de sobrevivência: precisam estancar a sangria da Lava Jato se não quiserem acabar na cadeia.