Folha de S. Paulo


Ministro da Agricultura erra ao aceitar loteamento político de cargos

Pedro Ladeira - 21.mar.2017/Folhapress
Governo interdita mais 2 frigoríficos do Paraná na sequência da Operação Carne Fraca
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (à esq.), em visita a frigorífico no Paraná

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vem recebendo muitos elogios do setor privado pela condução da crise deflagrada pela Operação Carne Fraca, que investiga um esquema de corrupção entre os fiscais agropecuários.

Quando o escândalo estourou, ele voltou às pressas de uma licença do cargo e, no fim do primeiro dia, já anunciava a suspensão de 33 servidores. Também paralisou as exportações das fábricas citadas e chegou a interditar algumas unidades.

Com o apoio direto do presidente Michel Temer, que levou os embaixadores dos países compradores a uma churrascaria, os esforços do ministro vêm surtindo efeito: o embargo inicial de China, Hong Kong, Chile e Egito foi revertido.

O principal argumento do governo é que os problemas apontados pela Polícia Federal são pontuais e estão restritos a poucas empresas e servidores. Também sobraram críticas a atuação "irresponsável" dos investigadores.

Passadas duas semanas desde o início da operação, já ficou claro que a PF exagerou ao sugerir que a carne brasileira é de má qualidade. Investigadores chegaram a afirmar que uma das maiores empresas do país misturava papelão para fabricar embutidos —uma maluquice.

Essa confusão deixou em segundo plano o verdadeiro mérito da investigação, que revelou uma enorme promiscuidade no relacionamento entre os fiscais do Ministério da Agricultura e os frigoríficos. E é nesse aspecto tão sensível que a atuação de Maggi deixa a desejar.

Além de favores pessoais, como viagens pagas ao exterior e até uma carne para o churrasco do fim de semana, os fiscais agropecuários pediam às empresas colaborações para as campanhas dos políticos que os garantiam no cargo. Esse é o principal problema exposto pela Carne Fraca: o loteamento político de cargos técnicos.

No Ministério da Agricultura, a maioria dos superintendentes estaduais é indicada por partidos, deputados e senadores. Eles vêm de fora do corpo técnico ou podem até ser servidores concursados, mas só chegam ao topo da carreira se tiverem um "padrinho".

Questionado sobre o assunto, Maggi argumentou que esse não era um problema só do Ministério da Agricultura, mas da política brasileira —o que é verdade, o loteamento político quase quebrou a Petrobras.

E para justificar o injustificável, o ministro saiu-se com uma pérola:

"Os parlamentares nos Estados, cobrados pela população, brigam politicamente por espaço. Com certeza, a maioria [dos superintendentes] foi indicação política, mas é mais para demonstrar força política do que para interesses privados."

Qual é a lógica de um partido indicar um superintendente agropecuário ou um diretor da Petrobras? Não vejo vantagens para a sociedade, mas me parece evidente o poder que os políticos ganham para defender seus "interesses privados" em empresas que dependem de um serviço público ou de um contrato com uma estatal.


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