Folha de S. Paulo


A lua de mel entre Temer e os empresários está ameaçada

Alan Marques/Folhapress
BRASILIA, BRASIL, 21-11-2016: Presidente Michel Temer participa da reunião do Conselho de Desenvolvimento Economico Social, o Conselhao, no Planalto. Foto Alan Marques/Folhapress
O presidente Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em reunião do Conselhão

Nesta semana, o presidente Michel Temer voltou a reunir o "Conselhão". A presença de empresários importantes —incluindo Jorge Paulo Lemann, um dos donos da AB Inbev e o homem mais rico do país— demonstra que o governo ainda tem prestígio junto ao PIB, mas também revela uma forte pressão.

Ao pedir durante o encontro que o presidente não tenha receio de fazer "reformas impopulares", mas necessárias, o publicitário Nizan Guanaes disse publicamente o que muitos homens de negócio vem repetindo em privado.

A percepção dos empresários é que, se realmente quiser tirar o país do buraco, o governo precisa acelerar as reformas previdenciária e trabalhista, além do plano de concessões de obras de infraestrutura.

Em conversas reservadas, dirigentes de grandes empresas elogiam o compromisso da equipe econômica em arrumar as contas públicas, mas reclamam da falta de "ambição" do governo, que gasta muito tempo se defendendo da crise política e não teria um "projeto" para o Brasil.

O desconforto entre os empresários é provocado pela persistência da recessão. Também nesta semana, o ministério da Fazenda reviu sua projeção de crescimento do PIB em 2017 para apenas 1%. Neste ano, a queda deve chegar a 3,5%.

O mercado reagiu bem ao impeachment de Dilma Rousseff e à chegada de seu vice ao poder. As ações das empresas subiram e os indicadores de confiança melhoraram. Naquele momento, muitos empresários tiveram esperanças de que a crise arrefecesse neste fim do ano.

Mas, infelizmente, isso não vem acontecendo. As vendas continuam em queda, a capacidade ociosa das fábricas é alta, o crédito está caro e escasso, e o desemprego ainda vai crescer. Já ficou evidente que a crise é ainda mais grave do que se imaginava.

Avesso a mudanças bruscas de poder, que paralisam a economia e prejudicam os negócios, o setor privado demorou para embarcar no pedido de impeachment de Dilma. Durante meses, industriais e banqueiros pediram calma aos políticos, embora não simpatizassem com a presidente.

Os empresários só passaram a apoiar abertamente o impeachment quando ficou claro que a economia não ia parar de afundar enquanto Dilma estivesse no comando.

A relação com Temer está longe desse ponto, mas pode se desgastar rapidamente se as projeções de PIB para o ano que vem começarem a apontar para baixo.

Até agora, a torcida do setor privado é para que o presidente seja poupado pela Operação Lava Jato para evitar uma nova ruptura.

Mas, se ficar claro que esse governo também não é capaz de recuperar a economia, não haverá muitos braços do PIB dispostos a resgatar Temer se ele for enredado nas novas delações premiadas que vem por aí.


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