Folha de S. Paulo


Crise do Rio foi mascarada com empréstimos e outras manobras

Na noite desta quinta-feira (17), Sérgio Cabral foi recebido no presídio de Bangu, na zona do Oeste do Rio de Janeiro, por um grupo de pessoas que comemorava com fogos, brindes e carregava uma faixa "justiça seja feita".

Segundo a Polícia Federal, o grupo político do ex-governador recebeu R$ 220 milhões de propina em troca de desonerações fiscais e obras que enriqueciam os empresários "amigos".

Os detalhes do caso —um anel de R$ 800 mil para a primeira dama ou uma mesada para o então governador de R$ 300 mil, ambos pagos por empreiteiros— chegam a ser um escárnio com a atual situação do Rio.

Nos últimos dias, servidores públicos "sitiaram" a assembleia estadual para protestar contra o duríssimo ajuste fiscal promovido pelo atual governador Luiz Fernando Pezão, afilhado político de Cabral.

Com as finanças em frangalhos, o governo fluminense precisa cortar despesas, porque não tem dinheiro para pagar fornecedores e funcionários, correndo o risco de paralisação de serviços públicos essenciais como saúde e segurança.

A crise das finanças do Rio foi agravada pela recessão brasileira, que derrubou a arrecadação, e pela queda dos royalties do petróleo, mas já vinha sendo adiada e mascarada por empréstimos e manobras para antecipação de receitas.

Nos últimos anos, o governo do Rio de Janeiro se endividou, aumentou sua folha de pagamento (que já era inchada), gastou com obras superfaturadas, e sustentou um sistema previdenciário falido. Tudo isso com as bênçãos de Brasília.

"O governo federal foi solidário na bonança, agora tem que ser solidário na desgraça", defende José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre/FGV e professor do IDP.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, resiste em abrir o cofre, por conta da frágil situação fiscal do próprio governo federal. Em visita a Nova York, sinalizou com a possibilidade dos governos estaduais pedirem mais empréstimos no exterior.

Se o Rio conseguir convencer os investidores a comprar seus títulos de dívida a preços que não sejam obscenos, seria apenas mais uma manobra que não resolve o problema.

A situação é calamitosa não só no Rio de Janeiro, mas também em outros Estados por conta de erros similares. Se a recessão persistir, o problema vai se agravar e se espalhar pelo país com consequências sociais imprevisíveis.


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