Folha de S. Paulo


Infelizmente, as demissões vão continuar

Se excluirmos os efeitos sazonais, já faz 19 meses consecutivos que o desemprego vem crescendo no país. É mais de um ano e meio assistindo à indústria, o comércio e, recentemente, até o setor de serviços promover reduções expressivas de sua força de trabalho.

Conforme divulgou o IBGE nesta quinta-feira (24), a taxa de desemprego chegou a 9,5% nos três meses encerrados em janeiro, um aumento importante em relação aos 6,8% de janeiro de 2015 e aos 6,4% de janeiro de 2014.

São 9,6 milhões de pessoas desocupadas no país. Infelizmente, não vai parar por aí.

Projeções de consultorias indicam uma taxa de desemprego média acima de 11% este ano. Para 2017, depende da solução da crise política. Com o impeachment, a taxa poderia cair para 9%, mas com a presidente Dilma no cargo chegar a 14%.

No início da crise, os empresários relutaram a demitir, seja pelos altos custos que isso representa no Brasil ou pelo medo de perder mão de obra que demoraram para recrutar e treinar.

O tenebroso 2015 deixou evidente que a recessão estava instalada. O país começou o ano apostando num pequeno crescimento do PIB e terminou com queda de 3,8%. As empresas cortaram fundo no seu quadro de funcionários, imaginando que o problema estava resolvido.

Mas não estava. O PIB deve cair pelo menos mais 3,5% este ano e mais demissões serão inevitáveis. Pior do que isso: empresas de todos os portes renegociam suas dívidas com os bancos, entram em recuperação judicial ou simplesmente quebram. E isso significa um monte de gente sem emprego.

Por erros do governo Dilma, que gastou mais do que podia em políticas equivocadas, o país perdeu o rumo. E essa desorganização culmina agora no fim da maior conquista do partido da própria presidente, o PT, que era a redução da desigualdade e a queda do desemprego. No lugar da bonança, criou-se um ciclo recessivo difícil de reverter, com as pessoas ganhando menos, consumindo menos, e as empresas demitindo.

Os empresários deixaram de confiar na atual administração. Sem confiança, não há contratações, mesmo que o governo tente estimulá-las com programas específicos ou mais crédito. Os tímidos resultados do programa de proteção ao emprego são uma prova disso.

É verdade que a saída da presidente provocaria uma reversão das expectativas, com fortes altas das ações e valorização do real. Isso não significa, no entanto, uma reversão imediata do mercado de trabalho.

Para voltar a contratar, as empresas vão esperar a consolidação de um eventual novo governo, cuja principal tarefa seria obter o apoio político necessário para implementar as reformas que o país precisa. Além disso, suas lideranças políticas não deveriam estar envolvidas na Operação Lava Jato, o que parece quase impossível dado o tamanho do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Conclusão: o custo das crises econômica e política no Brasil, principalmente para os mais pobres, ainda vai aumentar muito. Infelizmente.


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