Folha de S. Paulo


China: mais uma péssima notícia para o Brasil

As notícias que vêm da China são nebulosas, mas já dá para perceber que o desenrolar dessa história pode ser negativo para o mundo e, especialmente, para o Brasil.

Parece que estamos nos aproximando perigosamente do estouro da tão temida bolha de ações da China. Uma espécie de "subprime" chinês em que problemas do mercado financeiro podem contaminar a economia real.

O pouco que sabemos até agora é que os investidores venderam ações "a descoberto" na China, ou seja, sem depositar suas margens de garantia, e provocaram a maior alta dos papéis em sete anos.

Com a recente restrição no crédito pelos bancos, foram chamados e cumprir suas obrigações e simplesmente não têm o dinheiro, provocando quebra-quebra entre as corretoras.

Os preços das ações derreteram e as companhias optam por sair da bolsa num movimento desorganizado e pouco regulado. No total, 940 companhias ou mais de um terço do total já deixaram de ser listadas. Como isso é possível?!

As ações perderam US$ 3 trilhões em valor e a economia real não vai escapar a um movimento como esse. O que não está claro ainda é o tamanho do estrago.

Os demais países do mundo dificilmente ficarão ilesos e o Brasil, em especial, já que foi considerado por muito tempo pelos investidores um "derivativo da China", devido a sua estreita relação comercial com o país, vendendo as matérias-primas para a industrialização chinesa.

O primeiro contágio vem pelo mercado mais sensível: o câmbio. Às 13h20, o dólar subia 1,49% para R$ 3,23, acompanhando o desvalorização das moedas dos países emergentes, provocada pela aversão ao risco dos investidores.

Os mercados de commodities também já começaram a refletir o estrago, principalmente o minério de ferro, principal produto, até agora, da pauta de exportação brasileira. Somente hoje o minério caiu 10% para US$ 44,59. Desde o início de junho, a queda é de espantosos 29,24%.

O efeito é imediato na mineradora brasileira Vale, uma importante fornecedora das siderúrgicas chinesas. As ações da empresa recuavam 3% hoje para R$ 14,68. Os papéis acumulam queda de 23,90% desde 1º de junho.

Essa turbulência é péssima notícia para o Brasil e para o governo Dilma porque já temos problemas internos suficientes. A lista é longa: a recessão deve bater em 1,5% este ano, o desemprego está subindo perigosamente, e a presidente governa sob a ameaça de um processo de impeachment.

Como se isso não bastasse, agora se desenha uma forte crise em nosso principal parceiro comercial. Com a Vale sofrendo e os preços das commodities em queda, teremos mais um dreno de recursos na combalida economia brasileira.


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