Folha de S. Paulo


O medo de perder o emprego

Nos últimos meses, está se disseminando entre as pessoas o medo de perder o emprego, um fantasma que é velho conhecido dos brasileiros, mas estava desaparecido nos últimos anos.

Pesquisa do instituto Datafolha aponta que 73% da população acredita que o desemprego vai aumentar. Há razões para o pessimismo. Em maio, mais de 115 mil vagas foram fechadas no país, o pior resultado em 23 anos, segundo o ministério do Trabalho.

Os dados mostram que a crise econômica chegou ao mercado de trabalho. Durante meses, as empresas postergaram demissões na expectativa de uma reviravolta na situação do país após as eleições. Agora, com a recessão se aprofundando, perderam as esperanças de uma recuperação no curto prazo.

Com os estoques crescendo, as receitas caindo e os custos subindo, muitas companhias não enxergam outra saída a não ser fechar vagas. A situação já é assustadora no setor automotivo, na construção civil, no setor de petróleo e gás, entre vários outros.

Infelizmente ainda é cedo para dizer que chegamos ao fundo do poço. O mais provável é que a taxa de desemprego continue subindo. Nas projeções da MB Associados, pode chegar a 9% no fim do ano.

É uma taxa abaixo das máximas históricas e inferior a de países europeus em crise, mas ainda assim nada agradável para o Brasil, que vivia uma situação de pleno emprego.

Essa situação gera muito insegurança. Receosas de perder o emprego, as pessoas consomem menos, as empresas vendem menos, investem menos e cortam funcionários, que vão consumir menos. Está pronto o círculo vicioso.

Os economistas vinham alertando faz tempo que a semente do desemprego já estava plantada na economia, mas foram taxados de pessimistas pelo governo, que minimizava a situação em período pré-eleitoral. Agora se tornou impossível negar o problema, que chegou aos gabinetes em Brasília.

Assessores presidenciais e expoentes do PT estão preocupados com a tensão política que essa onda de desemprego vai causar em um governo já fraco, cuja taxa de reprovação (ruim ou péssimo) atingiu 62%. A presidente Dilma conseguirá prosseguir com o ajuste fiscal? As pessoas voltarão às ruas para manifestar sua indignação?


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