Folha de S. Paulo


Guinada à direita na política comercial

O governo Dilma Rousseff tenta, mais uma vez, dar uma guinada à direita em sua política comercial. O objetivo é agradar aos empresários que estão aflitos com a baixa inserção do Brasil na economia global.

No início do primeiro mandato, a presidente já tentou fazer esse movimento, mas não chegou a lugar nenhum. Dessa vez, os sinais são alvissareiros, mas ainda tímidos para que se possa cravar que será diferente.

Na terça-feira (26), Dilma esteve no México e afirmou, ao lado do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, que os dois países vão dar início a uma negociação para ampliar o número de produtos que circulam isentos de impostos alfandegários.

O anúncio, no entanto, foi cercado de cautela. Os diplomatas encarregados de falar do tema evitaram se comprometer com um acordo de livre comércio. Sem uma meta clara, existe uma grande chance de o esforço culminar em apenas mais um punhado de produtos sem pagar tarifa de importação - ou seja, quase nada.

Em meados de maio, Dilma aproveitou a visita do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, a Brasília, para anunciar que vai tentar - pela enésima vez - retomar as negociações com a União Europeia.

Como os uruguaios sempre apoiaram o acordo, o recado da presidente tinha um destino claro: Argentina e Venezuela - os dois países bolivarianos admirados pela esquerda, mas cujas economias estão fazendo água. "O Mercosul avançou com a incorporação da Venezuela, mas não pode se acomodar", disse Dilma.

Neste caso, o problema é combinar o jogo com os europeus, que vêm protelando o assunto. A economia brasileira está estagnada e eles têm outras prioridades, como a ambiciosa negociação que tocam com os Estados Unidos.

O esforço de mudança de rumo da política comercial brasileira vem sendo comandado pelo ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento), defendendo um pleito do empresariado. Para contrabalançar a recessão local, a única saída para as empresas é exportar.

No primeiro mandato, as sinalizações de Dilma de que deixaria de lado a política sul-sul para voltar a se aproximar dos maiores compradores de produtos brasileiros, como Estados Unidos e União Europeia, provocaram euforia.

Quatro anos depois e sem nenhum acordo de livre comércio relevante para mostrar, é difícil acreditar nas boas intenções da presidente. Vai ser preciso ver para crer.


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