Folha de S. Paulo


Decisão certa, hora errada

A presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares estão tentando viabilizar uma nova rodada de concessões de obras de infraestrutura à iniciativa privada. Já faz algum tempo que o governo se convenceu de que incentivar os investimentos é a única forma de salvar a economia do desastre.

Devido aos inúmeros erros dos últimos anos, o país enfrenta um perigosa estagflação. A previsão para o ano é queda de 1% no PIB e inflação superando os 8%. É urgente, portanto, sair da recessão, mas a margem de manobra está muito estreita.

Não há espaço para incentivar o consumo, seja por receio de perder o controle dos preços ou porque os cofres públicos estão vazios, após os gastos desenfreados com equivocadas políticas de estímulo.

A única saída é destravar as obras de infraestrutura, que melhoram a eficiência da economia. No médio prazo, ajudam até a derrubar a inflação. O diagnóstico do governo é irrepreensível, mas o problema está no "timing".

Com a economia em crise, o Congresso às turras com o Executivo, e as investigações da Polícia Federal ameaçando atingir outros setores, não vai ser fácil convencer os investidores estrangeiros a aplicar seu dinheiro no Brasil - ainda mais em projetos com retorno de longo prazo.

E não é só isso. A Operação Lava Jato atingiu em cheio as grandes construtoras brasileiras, acusados de suborno e prática de cartel na Petrobras. Essas empresas estão sem crédito na praça e a maioria não tem condições de participar dos consórcios que tocariam as obras.

Há alguns anos, o Brasil era a bola da vez e os grandes fundos de investimento teriam aplicado bilhões e bilhões, sem hesitar, para construir portos, estradas e ferrovias por aqui. Mas os governos petistas não queriam nem ouvir falar em privatização.

Conforme a situação foi apertando, cederam a contragosto. Tinham uma preocupação legítima de não onerar a população com pedágios e tarifas escorchantes, mas meteram os pés pelas mãos e tornaram o negócio pouco atrativo para os investidores.

Agora os técnicos dilmistas tendem a ser negociadores mais razoáveis na montagem do modelo de concessões, porque estão com a corda no pescoço em busca de dinheiro para cumprir a meta fiscal. Só que correm um sério risco de ficarem falando sozinhos. E, se isso ocorrer, que alternativa restará ao Brasil para voltar a crescer?


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