Folha de S. Paulo


Missão impossível

Nos últimos dias, o governo vem tentando animar o setor produtivo e engrenar uma agenda positiva. A presidente Dilma e seus ministros estão martelando na imprensa e em conversas diretas com os empresários que o pior já ficou para trás.

O discurso agora é que o ajuste fiscal vai começar a surtir efeito, tirando a economia do marasmo no final do ano e garantindo um crescimento sustentável em 2016.

A visão do Planalto é que até mesmo a complexa situação da Petrobras estaria perto de ser resolvida, com a divulgação do balanço no final do mês, após sucessivas postergações por causa das denúncias de corrupção da Operação Lava Jato.

Em conversas com os presidentes das montadoras de automóveis na quarta-feira, Dilma deu o recado do que espera do setor produtivo: paciência, visão de longo prazo e foco na exportação. Em bom português, aguardem mais um pouco e não demitam.

É obrigação do governo ser otimista, mas uma reação do empresariado demanda mais que blá, blá, blá. Em muitas empresas, o que se vê é uma combinação perversa de vendas em queda, capacidade ociosa e custos subindo.

O governo precisa com urgência adotar uma agenda positiva concreta, mas, com o coberto curtíssimo por causa do ajuste fiscal, é praticamente uma missão impossível.

Um exemplo: desde que assumiu o ministério do Desenvolvimento, Armando Monteiro vem falando num plano nacional de exportação.

Com o câmbio acima de R$ 3 e a economia local estagnada, parece ser a única saída para vários setores.

Não há ninguém em Brasília que seja contra a necessidade de estimular as exportações, mas até agora nada saiu do papel.

Com um rombo gigantesco nas contas públicos, o ministro da Fazenda Joaquim Levy não só não libera os recursos como restringe o pouco que já existe.

A tesoura da Fazenda já cortou o Reintegra (que devolvia créditos fiscais para os exportadores) e agora avança sobre o Proex Equalização (um subsídio do Tesouro para que os bancos reduzam os juros cobrados na exportação).

São os dois principais pilares do plano, que vai se tornando vazio e ineficaz.

E, sem plano de exportação, acaba uma das poucas agendas positivas da presidente na área econômica. A esperança é que o simples fato de colocar a casa em ordem com o ajuste fiscal acabe gerando um clima positivo no país.

Mas até lá ainda teremos mais demissões, inflação, manifestações, escândalos de corrupção....


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