Folha de S. Paulo


As brigas de Levy

O mercado está em lua-de-mel com Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff. Ele chegou a Davos para a reunião dos bilionários nos Alpes suíços com um pacote de aumento de impostos na bagagem e uma parte importante do ajuste fiscal garantido.

Os mercados já deram seu voto de confiança derrubando as taxas de juros de longo prazo e os banqueiros vieram a público falar de sua satisfação com o comandante da economia.

Os discursos do ministro são recheados de críticas à administração anterior, apesar da presidente ser a mesma. Ele já disse, diretamente ou indiretamente, que não vai pagar a conta dos erros no setor de energia, que a Petrobras deveria ser livre para definir o preço da gasolina, e que acabou a farra dos bancos públicos se financiando no Tesouro.

O ministro vai lutar com "unhas e dentes" por seu ajuste fiscal, mas já dá sinais de que conhece bem a "realpolitik" de Brasília. Desde que veio à tona que o governo articula o resgate da Sete Brasil através do BNDES e do Banco do Brasil, ele não disse uma palavra - em que pese sua crítica teórica ao patrimonialismo.

A Sete Brasil surgiu da vontade do governo do PT de fomentar a indústria naval brasileira. A Petrobras encomendou sondas de perfuração de petróleo à companhia a um custo mais alto do que compraria no exterior.

Com os projetos atrasados e sem gerar receita, a Sete está a beira de quebrar e gerar uma onda de demissões nos estaleiros que contratou. Se fosse à lona, seria mais uma tremenda derrota para a política desenvolvimentista do governo.

Além disso, deixaria numa situação delicada sócios poderosos que quiseram lucrar com o empreendimento: Previ, BTG, Bradesco, Santander, Funcef. O mais provável hoje é que o governo ajude a empresa.

Levy já disse a interlocutores que não vai interferir no salvamento da Sete Brasil. Afinal, quem manda é a presidente Dilma. O único recado é: não me venham pedir dinheiro depois porque a torneira do Tesouro para os bancos públicos secou.


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