Folha de S. Paulo


Chapa quente

Na gíria carioca, "chapa quente" é um termo utilizado para falar de um lugar perigoso ou para deixar claro que a situação de alguém vai piorar. Os últimos acontecimentos não deixam dúvida que a chapa vai esquentar na Petrobras.

Os problemas vão se acumulando e vem de todos os lados. Nesta manhã a operação Lava Jato prendeu o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, além de executivos de empreiteiras.

No início da semana, a holandesa SBM admitiu que pagou US$ 139 milhões em propinas no Brasil para conseguir contratos. Para a Corregedoria Geral da União (CGU), seis pessoas na Petrobras —entre funcionários e ex-funcionários— podem ter recebido dinheiro sujo.

Tudo indica que a Petrobras vai pagar caro por encobrir, fazer vista grossa ou simplesmente ser muito ineficiente no combate à corrupção interna, impedindo que milhões e milhões de reais fossem pelo ralo.

Depois que o ex-diretor Paulo Roberto da Costa admitiu que cobrava 3% de propina nos contratos da estatal para repassar a políticos, nove delatores estariam dispostos a colaborar com a Polícia para evitar ir para a cadeia.

Apesar da disposição da Polícia Federal, esses processos podem se arrastar por anos na justiça brasileira conforme as conveniências políticas do governo e da oposição, mas, no exterior, não vão deixar barato. A Petrobras tem ações na bolsa de Nova York e está sujeita às leis americanas de combate à corrupção.

Segundo o jornal "Financial Times", o DoJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos) e a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) estão investigando a corrupção na Petrobras. Eles querem saber por que a empresa não conseguiu evitar que seus acionistas fossem lesados.

As penalidades são pesadas para todos os envolvidos, inclusive os auditores das contas da empresa. Não é à toa que a PwC, uma das maiores auditorias do mundo, recusa-se a assinar o balanço do terceiro trimestre da empresa, que não será entregue no prazo.

Segundo especialistas ouvidos pela coluna na condição de anonimato, se for condenada ou fechar um acordo com as autoridades americanas, a estatal terá que pagar uma multa bilionária e pode até ser expulsa da bolsa de Nova York.

É grande a chance de surgirem dezenas de processos movidos por investidores lesados, que podem pedir o arresto dos bens da companhia no exterior. Sem falar que seus administradores não poderão levar os filhos à Disney porque vão parar na cadeia se entrarem nos EUA.

Ou seja, não resta dúvida que a chapa ainda vai esquentar muito na Petrobras. Se a estatal não apresentar um excelente defesa, vai passar de orgulho a vergonha nacional.


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