Folha de S. Paulo


O preço da arrogância de Cristina

Axel Kicillof, ministro da Economia da Argentina, não deve estar tendo tempo para assistir aos jogos da seleção de seu país na Copa do Mundo. Nesta semana, passou os dias entre Nova York e Buenos Aires, tentando evitar o segundo calote de seu país em 13 anos.

O primeiro "default" em 2001 significou o isolamento de Buenos Aires do mercado internacional com os custos de crescimento e desenvolvimento que isso representa. Agora a Argentina está metida em um embrulho jurídico sem precedentes que pode culminar novamente na mesma situação.

Na reestruturação da dívida argentina, 92% dos credores aceitaram os descontos e as condições propostas pelo governo, mas 8% ficaram de fora. Esses fundos compraram os títulos na bacia das almas e entraram na Justiça para receber o valor total.

Os fundos ganharam a alcunha de "abutres" no governo Cristina Kirchner e realmente estão tirando vantagem da situação. Mas "business is business" e quem deve eventualmente tem que pagar. Eles conseguiram uma decisão judicial que obriga a Argentina a pagá-los antes de quitar a dívida com os demais credores.

Com bravatas de todo tipo, o governo Kirchner ganhou a antipatia do juiz americano, Thomas Griesa, que não acredita na boa fé do país vizinho. Cristina chegou a dizer no ano passado que "não obedeceria a Justiça dos Estados Unidos" e que "não pagaria dólar algum".

Graças a esse histórico, não causa estranheza a decisão do juiz divulgada ontem. Griesa rechaçou o pleito de suspender sua sentença até depois da próxima segunda, quando vence uma parcela de sua dívida reestruturada. A Argentina está pagando o preço da arrogância de sua presidente.

Kicillof tem fama de ser um dos mais razoáveis assessores que já passaram pelo governo de Cristina Kirchner. Mas tem protagonizado idas e vindas que não demonstram profissionalismo. Ele inicialmente propôs pagar a dívida reestruturada na Argentina, depois divulgou uma nota dizendo que não iria pagar para evitar o confisco, e ontem depositou o dinheiro.

Até ontem não se sabia para quais credores os bancos americanos repassariam os mais de US$ 800 milhões depositados pela Argentina: para os que esperavam o pagamento (mesmo contrariando a decisão da Justiça americana) ou para os "fundos abutres"? Uma insegurança jurídica enorme.

Martín Redrado, ex-presidente do Banco Central da Argentina, disse à Folha que essas negociações têm que ser feitas em uma sala fechada em Manhattan, longe das câmeras. Nesta semana, Kiciloff fez o oposto: foi até as Nações Unidas pedir o apoio dos países em desenvolvimento, em mais uma tentativa de constranger Griesa.

O atacante Lionel Messi tem salvado a seleção argentina, que sonha em ser campeã da Copa do Mundo, com golaços no final da partida. Kiciloff precisa com urgência mudar de tática e se transformar num Messi se quiser ajudar seu país. O tempo está se esgotando.


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