Folha de S. Paulo


Dilma cala a indústria

A presidente Dilma Rousseff conseguiu um feito esta semana: calou uma parte importante dos seus críticos, adotando um "pacote de bondades" praticamente sem abrir a carteira. As medidas anunciadas vão beneficiar principalmente a indústria, que tem sido um dos setores mais descontentes com o governo.

Sem espaço para fazer novas desonerações por conta da queda na arrecadação e da gastança que promoveu, Dilma optou por medidas que deixam a conta para 2015 –ou seja, para o próximo governo, seja ela reeleita ou não. A presidente prometeu que vai renovar o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) em 2015 e tornou permanente a desoneração da folha de pagamento.

As duas medidas juntas custam aos cofres públicos mais de R$ 100 bilhões. O argumento do governo é que já estão no orçamento deste ano e, portanto, não vão significar mais gastos no que vem. Mas tampouco sinalizam uma vontade de economizar.

Também foi anunciado a volta do Reintegra, que devolve parte dos impostos aos exportadores, ainda neste ano. O valor, no entanto, é irrisório. O Reintegra, que custava R$ 3 bilhões por ano antes de ser extinto, ficará em R$ 200 milhões. Duvido que esse montante dê competitividade aos produtos do Brasil no exterior.

Os empresários reclamam que perderam a confiança no governo. Dizem que é por isso que o país não cresce e que eles não investem. Na quarta-feira à noite, após o anúncio das medidas, o discurso já era outro. Afirmavam que as medidas não são suficientes para mudar a situação do país, mas mostram que a presidente está "atenta ao curto prazo", que "também é muito importante".

O pacote de Dilma tem o mérito de tornar o ambiente de negócios mais previsível, já anunciando hoje o que vai acontecer em 2015, ao invés de deixar tudo para o fim do ano, como é praxe no Brasil. No entanto, possui o mesmo problema que está no DNA do atual governo: são medidas pontuais, que passam longe de uma reforma.

No último mês, Dilma se reuniu três vezes com mais de 30 representantes de associações e federações industriais. A presidente, que era criticada por não receber a indústria, cumprimentou um a um. Ou seja, a "gerente" Dilma fez política e parece que deu certo.

Não será suficiente para que os empresários, que estão em massa com o candidato da oposição Aécio Neves, mudem seu voto. Mas certamente eles não vão mais falar tão mal do governo –certamente não em público. Afinal, todo mundo gosta de um afago.


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