Folha de S. Paulo


A "argentinização" do Brasil

Estamos cada vez mais parecidos com a Argentina. Para o bem e para o mal.

Os brasileiros assistem a greves que param São Paulo, provocam saques no Recife, e atrapalham o cotidiano de milhares de pessoas em outras grandes cidades.

É impossível não lembrar dos "panelaços" na Argentina, embora os nossos protestos ainda não tenham força política para derrubar governos.

Muitos argumentam que as greves atuais, diferente dos protestos de junho do ano passado, são chantagens do período pré-Copa e prejudicam a maioria.

Mas é inegável que os brasileiros "acordaram" e estão indignados com a precariedade da sua qualidade de vida - um espírito de contestação que os argentinos já experimentam faz tempo.

Os cientistas políticos ainda tentam explicar o fenômeno, mas talvez seja o resultado do aumento da renda e do nível de educação no Brasil, o que nos aproxima de países de renda média. Esse é o lado bom de parecer com a Argentina.

O lado ruim é que estamos mais parecidos também na política econômica populista. O governo Dilma flertou com os expedientes kirchneristas de manipulação da inflação.

Não chegaram a exigir do setor privado que congele preços como nossos vizinhos, mas seguraram o que puderam os preços sob seu controle, como gasolina e energia.

Na Argentina, o instituto de pesquisa, o Indec, perdeu totalmente sua credibilidade. Por aqui, felizmente, o IBGE tem uma burocracia eficiente que se rebela contra ingerências externas.

A Argentina é um país incrível, que vive um momento extremamente difícil por conta das políticas econômicas equivocadas. Tomara que o Brasil corrija a rota e "importe" dos vizinhos só o que é bom.


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