Folha de S. Paulo


2015: o ano do ajuste

Nem terminamos 2013 e já tem muita gente do setor produtivo, do mercado financeiro e da academia preocupada com 2015. Como as eleições são no ano que vem, o que torna uma mudança de rumo muito improvável nesse período, o primeiro ano de mandato do próximo presidente promete ser um dos mais difíceis da história recente do país.

2015 deve ser o ano de correção dos atuais desequilíbrios da economia brasileira, que não são poucos. A inflação ronda o teto da meta (apesar da defasagem do preço da gasolina e do congelamento do preço da passagem de ônibus), o déficit externo é crescente, a arrecadação está em queda, enquanto os gastos públicos sobem.

A credibilidade do Brasil no exterior já está em xeque, com as agências de risco ameaçando rebaixar a nota do país, por conta do crescimento baixo e da política fiscal expansionista. Nesta semana, o FMI alertou que o "excessivo microgerenciamento na política fiscal enfraqueceu a credibilidade do modelo fiscal de longo prazo".

Os defensores do governo vão argumentar que as agências de classificação de risco, que erraram tudo na crise, e o FMI, cujas receitas nunca funcionaram bem na América Latina, devem ser ignorados. A questão é que um país que precisa de financiamento externo para fechar as contas não pode dar os ombros para a opinião internacional.

Os agentes financeiros hoje esperam que 2015 seja uma repetição de 2003, quando Lula ganhou as eleições e precisou dar um choque forte na economia para conquistar a confiança do mercado e das empresas. O ex-líder sindical foi pragmático ao subir os juros com vigor e fechar as torneiras do gasto público naquela época.

Armando Castelar Pinheiro, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, está preocupado e acha que o mercado está sendo otimista. "Vai ser mais complicado do que isso. Os custos do ajuste hoje são muito maiores do que em 2003", diz.

Ele explica os seus temores: a inflação represada exige um forte aumento da taxa de juros; juros mais altos vão elevar ainda mais a inadimplência; e se o calote crescer, a situação dos bancos públicos, que injetaram crédito a rodo na economia por orientação do governo, vai se complicar.

Além disso, Lula deu muita sorte e os preços das commodities começaram a subir com vigor em 2004, trazendo recursos para o país e apreciando o câmbio. O dólar saiu de R$ 4 no final de 2002, chegou a R$ 1,7 e hoje está em R$ 2,1. Uma valorização tão brutal do câmbio facilita o ajuste, porque controla a inflação e aumenta o poder de compra das pessoas.

O sucessor de Dilma terá que remar com forte vento contrário. Pode demorar um pouco mais do que o esperado, mas os Estados Unidos vão mudar a sua política monetária, reduzindo a injeção de recursos no mercado e subindo os juros. Os efeitos no Brasil serão intensos: o câmbio vai se desvalorizar, impactando a inflação, os investidores vão se retrair, aumento os custos para rolar a dívida pública, e as empresas vão pagar empréstimos mais caros, reduzindo o ímpeto de investimentos.

Esse é o cenário para qualquer que seja o eleito no ano que vem. Dilma, que é favorita nas pesquisas, terá um problema adicional. A presidente já deu muitos sinais de que não pretende mudar a política econômica, porque acredita que o atual modelo está dando certo. E, se resolver mudar, vai demorar a ganhar a confiança do mercado, que ficou receoso com o intervencionismo dos últimos quatro anos.

É importante discutir 2015 agora, porque o medo do futuro está fazendo o pessimismo tomar conta do país. Os investimentos estão travados, porque as empresas não se arriscam por conta da insegurança com o desempenho da economia. Pela primeira vez em muito tempo, a média das estimativas do mercado aponta crescimento menor e inflação mais alta em 2014 do que este ano. É preciso reverter esse ciclo vicioso o quanto antes.


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