Folha de S. Paulo


A derrocada dos campeões nacionais

O ano de 2013 foi catastrófico para os "campeões nacionais" eleitos pelo governo para se tornarem multinacionais verde-amarelas. O BNDES despejou quase R$ 30 bilhões nessas empresas e não está sobrando pedra sobre pedra.

O lance mais recente é a fusão entre a Oi e a Portugal Telecom. Como é típico dessas operações complexas, não é possível saber ainda quem ficou com a empresa, mas ao que tudo indica a gestão será dos portugueses.

O governo mudou as leis para permitir a fusão que criou a Oi e concedeu empréstimos vultuosos para a empresa, mas não adiantou. A "super" tele brasileira se viu atolada em dívidas e precisando desesperadamente de uma capitalização, que só foi possível com a entrada do BTG, de André Esteves.

Outra operação de "salvamento" foi a venda da marca Seara, do frigorífico Marfrig, para o JBS. Os irmãos Batista assumiram dívidas do concorrente no valor de impressionantes R$ 5,85 bilhões. Basta lembrar que o Marfrig pagou R$ 1,8 bilhão pela Seara.

Os frigoríficos estão entre os favoritos do governo e abocanharam fatias expressivas de dinheiro. O BNDESPar, braço de investimentos do BNDES, tornou-se um sócio importante dessas empresas, despejando R$ 8,1 bilhões no JBS e R$ 3,6 bilhões no Marfrig.

O inferno astral dos "campeões nacionais", no entanto, começou na virada do ano, quando a LBR, que era para ser a gigante dos lácteos, pediu recuperação judicial e o BNDES se viu obrigado a assumir um prejuízo de R$ 700 milhões.

E não dá para esquecer a derrocada espetacular do empresário Eike Batista, que já foi o queridinho de Lula e Dilma e no qual o BNDES despejou R$ 10 bilhões. Eike está vendendo suas empresas aos pedaços e deve pedir a recuperação judicial da petroleira OGX a qualquer momento.

É interessante observar que essas empresas, de ramos tão diferentes, acabaram no mesmo lugar: com pesadas dívidas, que derreteram seu valor de mercado e deixaram as companhias sem fôlego para investir.

Como essas empresas conseguiram ir tão mal, apesar do forte apoio do governo? Pior ainda: boa parte delas atua em setores promissores, nos quais o Brasil tem vantagens comparativas ou mercado interno crescente.

Mansueto de Almeida, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), explica que "cada caso é um caso", mas que "todas as empresas receberam subsídios para comprar concorrentes, crescendo muito num espaço de tempo curtíssimo".

Ou seja, não conseguiram capturar as famosas "sinergias", o que pode ser um eufemismo para má gestão.

Agora o governo vai tentando salvar os dedos, participando das capitalizações de forma envergonhada e conseguindo soluções de "mercado" com a ajuda de empresários "amigos". Que sirva de lição.


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