Folha de S. Paulo


A última boa notícia do ano

A economia brasileira teve um crescimento surpreendente no segundo trimestre do ano, impulsionada pela indústria, pelos investimentos e pela agricultura. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,5% de abril a junho em relação a janeiro a março, conforme divulgou hoje o IBGE. O ritmo é muito superior a alta de 0,6% registrada no primeiro trimestre.

O resultado é música para os ouvidos do governo, que não tem tido muitos motivos para sorrir ultimamente. "O pior já passou. O fundo do poço foi superado, não só no Brasil, mas no mundo como um todo. Daqui para frente, é expansão", comemorou Guido Mantega, ministro da Fazenda.

Infelizmente, o ministro pode estar sendo, mais uma vez, otimista demais. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o PIB do segundo trimestre pode ter sido a última boa notícia do ano, porque a economia sofreu uma "parada súbita" a partir de junho, que derrubou a confiança de empresários e consumidores.

Alguns fatores contribuíram para o pessimismo. No Brasil, as manifestações de rua explodiram em junho, mostrando um forte descontentamento da população, e a inflação subiu forte, corroendo a renda dos trabalhadores, desacelerando o consumo e levando o Banco Central a elevar a taxa de juros.

No exterior, o Federal Reserve (BC dos Estados Unidos) deu sinais de que vai reverter em breve a política de estímulo monetário, o que pode significar juros mais altos nos EUA no médio prazo. O mercado reagiu e o capital fugiu dos países emergentes, desvalorizando moedas ao redor do mundo, inclusive o real.

É claro que nem tudo é desgraça na economia brasileira. A agricultura está, literalmente, "salvando a lavoura". O PIB do setor cresceu 3,9% no segundo trimestre em relação ao primeiro, graças à super safra que os produtores brasileiros estão colhendo.

Depois da boa surpresa divulgada pelo IBGE hoje, é provável que boa parte dos analistas comece a projetar um crescimento de 2% ou um pouco acima para o país este ano. Mas ainda é muito pouco. O governo já vinha se convencendo de que é preciso mudar de rumo - e prova disso é a disposição do BC para subir os juros e o empenho nas concessões de rodovias, portos e ferrovias.

O maior risco é que o PIB do segundo trimestre provoque uma reviravolta e reforce na equipe de Dilma a percepção de que estavam fazendo a coisa certa, quando claramente não estavam.


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