Folha de S. Paulo


Quem ganha com a venda do porto do Açu?

O empresário Eike Batista surpreendeu o mercado e acertou a venda do porto do Açu, em São João da Barra, no litoral do Rio de Janeiro, para o grupo americano EIG por R$ 1,3 bilhão.

Com uma dívida de quase R$ 2 bilhões e necessitando de robustos investimentos, a LLX, operadora do porto, era considerada um dos maiores "elefantes brancos" do empresário.

O negócio ainda está sujeito aos detalhes finais para ser fechado, mas deve ter muita gente respirando aliviada em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

BNDES e Bradesco são os principais credores da empresa. O BNDES emprestou R$ 546,3 milhões à LLX com vencimento em meados do mês que vem. Já o Bradesco acaba de conceder mais 18 meses de prazo para a empresa pagar R$ 467,7 milhões. Essa dívida agora só vence em outubro de 2014.

A venda do controle da LLX para a EIG é a salvação para os bancos, que não vão precisar reconhecer esses valores em seus balanços como prejuízo.

Para o governo, assumir esse tipo de perda no BNDES com um investimento no grupo de Eike seria um enorme constrangimento político. E deixar falir também não era uma opção para a administração Dilma. Teria um impacto negativo nos leilões de portos que estão por vir.

Os americanos parecem ter feito um excelente negócio. Como o dinheiro entrará via aumento de capital, o controle da LLX sai praticamente "de graça", porque esses recursos ficam na empresa, para bancar os investimentos necessários.

Eike também fez um bom negócio --pelo menos, na atual situação. Ele vai ser diluído num preço baixíssimo, de R$ 1,2 por ação, mas ainda vai manter uma fatia importante do porto do Açu. Sem dúvida, é melhor para ele ter 21% de um porto gerando receita do que possuir 54% de uma obra semiacabada, com dívidas bilionárias.

Se o projeto do porto do Açu tivesse naufragado, também seria uma saia justa para o governador do Rio, Sérgio Cabral.

Para viabilizar o projeto, ele desapropriou as terras de centenas de pequenos agricultores, que foram depois vendidas à LLX. A promessa era criar um distrito industrial na "retro área" do porto, gerando empregos. O lugar hoje, no entanto, é um imenso vazio. A situação dos agricultores já chama a atenção de seus adversários políticos, como o ex-governador Anthony Garotinho e o deputado Marcelo Freixo.

Essa "retro área", inclusive, é um dos atrativos para os americanos da EIG, porque vai representar uma receita importante, quando as empresas começarem a chegar e alugar esses terrenos.

Os agricultores tinham a esperança de retomar suas terras se o projeto não fosse adiante. Com a entrada da EIG, esse sonho se torna muito mais complicado. Provavelmente eles são os únicos que não vão ficar aliviados com desfecho dessa história.


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