Folha de S. Paulo


Frase de Temer sobre impeachment é constrangedora para ele e para Cunha

Ueslei Marcelino-12.mar.2016/Reuters
Brazil's Vice President Michel Temer (L) is seen near President of the Chamber of Deputies Eduardo Cunha during the Brazilian Democratic Movement Party (PMDB) national convention in Brasilia, Brazil, March 12, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BSB01
Michel Temer (esq.) e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha

BRASÍLIA - Um ano depois da excêntrica sessão em que a Câmara autorizou o processo que levaria à queda de Dilma Rousseff, Michel Temer resolveu fazer o que ele próprio chamou de uma "revelação".

Sem meias palavras, diz que seu correligionário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) autorizou a marcha do impeachment não por considerar ter havido crime de responsabilidade. Mas unicamente em retaliação à negativa de petistas de dar os votos para arquivar sua cassação.

Cunha era presidente da Câmara e tinha o poder de deflagrar ou arquivar o processo. Hoje é hóspede forçado do presídio de Pinhais (PR).

Em entrevista à TV Band veiculada no sábado (15), Temer disse que Cunha lhe telefonou em 2015 afirmando que iria arquivar os pedidos de impedimento contra Dilma pois o PT havia prometido os votos para absolvê-lo no Conselho de Ética.

"Eu disse: 'Olha, que bom, muito bom'", contou Temer na entrevista, não manifestando nenhum reparo à vergonhosa negociata que afirma ter ouvido do colega de partido.

No dia seguinte, porém, prossegue Temer, a casa caiu. Cunha lhe relatou que o acordão com o PT havia ido para o brejo e que, em consequência disso, daria naquele dia aval à sequência do impeachment.

O presidente diz que a revelação tem dois objetivos: 1) mostrar que Cunha não detonou o impeachment por sua causa e 2) provar que jamais militou para derrubar a petista.

A primeira afirmação é firme como uma rocha: Cunha queria salvar a própria pele, fosse o presidente Dilma, Temer ou o Marechal Deodoro. A segunda, porém, se choca com a força-tarefa que ele e Cunha lideraram em busca dos votos para apear a petista do poder.

Registre-se que de trás das grades Cunha desmentiu Temer, dizendo que ele abençoou sua decisão pró-impeachment 48 horas antes, considerando-a juridicamente correta.

Dilma é passado, mas a história de sua queda continua a ser escrita.


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