BRASÍLIA - Um ano depois da excêntrica sessão em que a Câmara autorizou o processo que levaria à queda de Dilma Rousseff, Michel Temer resolveu fazer o que ele próprio chamou de uma "revelação".
Sem meias palavras, diz que seu correligionário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) autorizou a marcha do impeachment não por considerar ter havido crime de responsabilidade. Mas unicamente em retaliação à negativa de petistas de dar os votos para arquivar sua cassação.
Cunha era presidente da Câmara e tinha o poder de deflagrar ou arquivar o processo. Hoje é hóspede forçado do presídio de Pinhais (PR).
Em entrevista à TV Band veiculada no sábado (15), Temer disse que Cunha lhe telefonou em 2015 afirmando que iria arquivar os pedidos de impedimento contra Dilma pois o PT havia prometido os votos para absolvê-lo no Conselho de Ética.
"Eu disse: 'Olha, que bom, muito bom'", contou Temer na entrevista, não manifestando nenhum reparo à vergonhosa negociata que afirma ter ouvido do colega de partido.
No dia seguinte, porém, prossegue Temer, a casa caiu. Cunha lhe relatou que o acordão com o PT havia ido para o brejo e que, em consequência disso, daria naquele dia aval à sequência do impeachment.
O presidente diz que a revelação tem dois objetivos: 1) mostrar que Cunha não detonou o impeachment por sua causa e 2) provar que jamais militou para derrubar a petista.
A primeira afirmação é firme como uma rocha: Cunha queria salvar a própria pele, fosse o presidente Dilma, Temer ou o Marechal Deodoro. A segunda, porém, se choca com a força-tarefa que ele e Cunha lideraram em busca dos votos para apear a petista do poder.
Registre-se que de trás das grades Cunha desmentiu Temer, dizendo que ele abençoou sua decisão pró-impeachment 48 horas antes, considerando-a juridicamente correta.
Dilma é passado, mas a história de sua queda continua a ser escrita.