Folha de S. Paulo


300 dias

"Nada disso me preocupa porque nada disso me atinge. Estou absolutamente tranquilo. Não conheço nenhuma dessas pessoas envolvidas nesse processo."

Com essas palavras, ditas às jornalistas Andréia Sadi e Natuza Nery horas depois de assumir o comando da Câmara, em fevereiro, Eduardo Cunha buscava minimizar os rumores de que estaria na lista dos investigados na Operação Lava Jato.

Três inquéritos, uma denúncia, seis delatores, um processo de cassação, um pedido de afastamento e alguns milhõezinhos ocultos depois, ele permanece incólume no cargo -e "absolutamente inocente", segundo suas próprias palavras.

Completam-se neste 31 de dezembro 300 dias desde que o Supremo autorizou a investigação contra o deputado. Mesmo em solo fértil em escândalos é notável a resiliência eduardiana. Lá se vão dez meses.

Collor durou pouco mais de quatro meses em 1992. Renan, outro herói da resistência, seis e meio em 2007. ACM (três meses) e Jader (quatro meses e meio), menos ainda em 2001. Isso sem falar nas quedas que se contam em dias. Como o mensalinho de dez mil (reais) de Severino Cavalcanti em 2005 -só 19 dias.

Cunha é tido como homem de palavra por seus numerosos aliados. Diz que não renunciará. E não demonstra rubor algum em tentar agir como se nada tivesse acontecido.

Mesmo após ser alvo de batida da PF em suas casas e escritório e do constrangedor encontro com o presidente do STF, que se recusou a lhe receber a portas fechadas, ele chamou jornalistas para um café da manhã de fim de ano na terça (29). Um balanço em que falou (mal) da economia, do governo e de adversários.

Como alguém cuja preocupação ao abrir a boca não devesse ser prioritariamente a de dar o outro lado.

Se o STF não afastá-lo do cargo, ele continuará com sua couraça "highlander" -e juiz soberano de seu processo de cassação na Câmara. Nesse caso, outros 300 dias virão.


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