Folha de S. Paulo


Flamengo tem a maior torcida do país, mas ela é invisível nos estádios

Xinhua/Li Ming
Ossada suspeita de ser de João Leonardo da Silva Rocha, morto na ditadura militar, é exumada em Palmas do Monte Alto (BA)
Torcedores do Flamengo durante jogo; média de público não ultrapassa 30 mil por partida

Existe uma informação mais absurda do que o clássico entre os dois times de maiores torcidas do Brasil acontecer neste domingo (19) à tarde num estádio com capacidade para apenas 20 mil pessoas. Mais surpreendente só a lembrança de que 30% dos jogos entre Flamengo e Corinthians na história do Brasileiro tiveram menos de 20 mil espectadores.

Então cabe na Ilha do Urubu. Mas não deveria.

Dos 62 clássicos pelo Campeonato Brasileiro, o maior público foi registrado no Morumbi, em 1984: 115 mil. O menor em Niterói, em 1994: 4.000.

O campo da Portuguesa, na Ilha do Governador, era conhecido nos anos 1960 como Morro dos Ventos Uivantes e foi lá o primeiro gol de goleiro com registro no Brasil: Ubirajara em um Flamengo 2 x 0 Madureira, em 1970. O Flamengo arrendou o terreno por três anos e reformou o estádio. Mas nem seus dirigentes julgam a solução ideal mandar lá clássicos como o de hoje.

Acontece que há um escândalo envolvendo a administração do Maracanã e os adiamentos do governo do Estado do Rio para solucionar a situação.

Ocorre também que o Flamengo perde dinheiro se tirar o jogo da Ilha do Urubu e levar para o estádio mais carismático do planeta. Dos três jogos que mandou no Maracanã no campeonato, o Flamengo empatou a receita no Fla-Flu. Ganhou dinheiro contra o Atlético-MG por ser um jogo de caráter social, sem cobranças de luz, água e aluguel. E perdeu R$ 300 mil contra o Vasco.

O Flamengo diminuiu o preço dos ingressos e, por incrível que pareça, jogar na Ilha do Urubu pode representar mais dinheiro para o clube do que se o clássico entre as duas maiores torcidas do país acontecesse no maior estádio brasileiro, o Maracanã.

Mas isto tem de ser momentâneo. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que poderia ser conhecido pelo aumentativo de outra parte do corpo, precisa solucionar o impasse do Maracanã. O Flamengo tem de resolver sua vida. Construir um estádio maior e enchê-lo de gente em todas as partidas. Como fazem Corinthians e Palmeiras.

É incrível que 30% dos clássicos entre rubro-negros e corintianos, na história do Brasileiro, registrem menos de 20 mil pagantes.

O Flamengo teve a melhor média de público do Brasileiro 12 vezes, a última em 2009. O Corinthians foi recordista dez vezes.

Em 2005, levou em média 26 mil por partida. Em 2015, 33 mil. Neste ano, foram 39 mil por jogo.

O público corintiano aumenta ano a ano e não é por causa do título. Ano passado, sétimo colocado no Brasileiro, o Corinthians levou em média 31 mil a Itaquera.

O Flamengo tem a maior torcida do Brasil, mas faz o caminho inverso. Tem apenas a sétima maior presença de público do país. Há oito anos não tem média maior do que 30 mil no Brasileiro.

Não é pelo preço. O Corinthians cobra mais caro. Nem é pelo estádio. O segredo corintiano segue sendo o plano de sócios-torcedores que dá prioridade na compra do ingresso a quem vai a todas as partidas.

Não se vai discutir aqui se o Flamengo tem ou não a maior torcida do Brasil. Tem. Mas é invisível nos estádios. Por isso e porque não lota um campo de 20 mil lugares é que, hoje, o Flamengo pode enfrentar o Corinthians na Ilha do Urubu.


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