Folha de S. Paulo


No Brasil, clubes que gastam muito não têm certeza de vitórias

Giuliano Gomes/PR Press/Folhapress
Giovanni Augusto e Guilherme Arana, do Corinthians, durante a partida contra o Atlético Paranaense pelo Brasileiro
Giovanni Augusto e Guilherme Arana, do Corinthians, durante vitória contra o Atlético Paranaense

O Corinthians é o virtual campeão brasileiro e tem a quinta maior folha de pagamento do país. Perde para Palmeiras, Atlético-MG, São Paulo e Flamengo. O Grêmio, vice-líder, é o sétimo colocado no ranking dos salários e o Santos ocupa a nona posição.

Dinheiro não é equivalente a troféus, ou o Leicester não seria campeão inglês na temporada de 2016.

No Brasil, quem gasta muito tem menos certeza das vitórias do que na Europa. Lá, contratam-se os gênios. Aqui, os que não foram.

"Quando se tem menos dinheiro, é preciso escolher melhor", diz o técnico do Cruzeiro, Mano Menezes. Dos vinte clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro é o único com certeza de título nacional ou internacional neste ano.

"Quase sempre, quem gasta muito também contrata muitas vezes e isto não dá estabilidade", completa Mano Menezes.

O Corinthians ganhou o Campeonato Paulista, é o virtual campeão brasileiro e mesmo assim é acusado de não ter planejamento. Tudo deu certo meio por acaso. Queria contratar Reinaldo Rueda. O colombiano rejeitou e Fábio Carille foi efetivado. Não havia dinheiro para reforços. A aposta foi em jovens, como Arana e Maycon.

O diretor de futebol, Flávio Adauto, defende-se: "Se não houvesse planejamento, não ganharíamos nem o Estadual. Recusamos propostas do exterior, mantivemos o elenco e, no segundo semestre, trouxemos só o Clayson para melhorar nosso time."

A falta de contratações poderia ser um problema, mas se torna um mérito na comparação com rivais que passam meses seguidos mexendo no elenco. O diretor de futebol do Flamengo, Rodrigo Caetano, diz que contratou no meio da temporada, porque foi mais barato do que se comprasse em janeiro. Caso de Éverton Ribeiro.

O Palmeiras comprou o atacante Deyverson, do Alavés, em junho. Era um jogador para o estilo que Cuca desejava implantar, mas não serve para Alberto Valentim. A pergunta é como o Palmeiras deseja jogar, não o que pensa seu técnico de junho, o de novembro ou o que será contratado em janeiro.

Só há dois clubes no Brasil com estilo de jogo definido: Corinthians e Santos. "O Corinthians é defensivo e nós somos ofensivos", avaliza o presidente do Santos, Modesto Roma. A confiança santista é que a diminuição da dívida aumente a capacidade de montar um time campeão brasileiro no ano que vem.

No ano passado, o Santos foi vice. Neste ano, terminará no mínimo em quarto lugar. Nono colocado em folha de pagamento, bate na trave na briga para ser campeão.

À parte o estádio, a dívida do Corinthians girava em torno de R$ 400 milhões no início do ano, mas a preocupação era com R$ 100 milhões vencidos em curto prazo.

A dívida foi alongada, mas o dinheiro ainda preocupa, porque será necessário ampliar o elenco para disputar Libertadores, Copa do Brasil e Brasileiro simultâneos. O Corinthians tem a quinta maior folha de pagamento, mas a segunda maior receita do país, atrás apenas do Flamengo.

Não é um clube pobre.

Sua maior riqueza é saber como quer jogar. Isso diminui a chance de contratar por impulso, por vontade de um técnico ou pela manchete. Não existe repercussão maior do que ser campeão.


Endereço da página:

Links no texto: