Folha de S. Paulo


Semana mostrou que Copa resiste aos torneios de clubes milionários

Fernando Vergara/Associated Press
Messi garantiu classificação da Argentina para a Copa

O goleiro Iker Casillas declarou logo depois da final da Liga dos Campeões de 2014, a terceira de sua carreira, que a conquista era tão grande quanto a Copa do Mundo de 2010, que ajudou a Espanha a ganhar: "Esperamos muitos anos pela Décima", disse Casillas, em referência ao décimo título europeu do Real Madrid.

Gianluigi Buffon jamais ganhou a Liga dos Campeões. Considera a chance de conquistá-la uma glória igual à da Copa de 2006, pela Itália.
Medir emoções é impossível.

É a era dos torneios milionários de clubes, mas muita gente se empolgou e demonstrou paixão por feitos de seleções nacionais em jogos decisivos na última semana.

A reta final das eliminatórias demonstra como a importância da Copa do Mundo resiste. Ainda que pátria e futebol não caminhem sempre juntos, camisetas e bandeiras foram tiradas do armário para torcer por Messi, Cristiano Ronaldo, Insigne, Pogba e Neymar.

A primeira página do diário Clarín, na quarta (11) seguinte à vitória sobre o Equador, dizia: "O gênio de Messi nos colocou no Mundia.

O verbo conjugado na primeira pessoa do plural: nós.

A angústia e apreensão pela possível ausência não foi exclusividade argentina. "Se a Itália não for à Rússia será o Apocalypse Now. Ninguém liga para a seleção normalmente, mas na hora da Copa todo mundo tem bandeira na janela", diz o jornalista Enzo Palladini do canal italiano MediaSet, nascido e residente em Milão.

Aos poucos, a Itália afasta-se do centro do futebol mundial. Não ganha nenhum torneio europeu de clubes desde a Internazionale, de José Mourinho, em 2010, o primeiro campeão continental sem nenhum titular nascido no país do clube. O treinador também era estrangeiro.

Nas 14 competições seguintes, Liga dos Campeões e Liga Europa somadas, os times da Espanha venceram nove, a Inglaterra três, Portugal e Alemanha uma vez cada. A elite do futebol está lá.

Editoria de Arte/Folhapress

Mas são quatro países apenas. Só se vai jogar futebol de alto nível nesses quatro lugares?

As fronteiras se expandem pela televisão, mas limitam-se fisicamente. Muita gente fora da Espanha torce por Real Madrid e Barcelona. Mas quem acompanha o Porto fora de Portugal? O Porto é um dos campeões continentais citados acima.

A Liga dos Campeões é uma competição espetacular. Isto à parte, criam-se patriotas do Barcelona, nascidos na Rocinha.

Pode ser tão justo quanto um menino nascido em Manaus torcer pelo Flamengo, mas isto não significa que deva se tornar uma tendência e que não possa haver trabalho capaz de formar mais vascaínos e rubro-negros na

Rocinha, mais corintianos e palmeirenses em Heliópolis, do que barcelonistas e madridistas no Rio e em São Paulo.

Também é legítimo discutir se é patriótico torcer pela seleção ou se é permitido apaixonar-se pela camiseta da Holanda, do Uruguai ou da Argentina.

Injusto é atribuir regras.

No mundo do politicamente correto, para muita gente parece ridículo quem torce pela seleção brasileira.

Não é.

Não se trata de patriotismo. Trata-se de pertencimento. É por isso que italianos, argentinos e portugueses levam bandeiras à janela, como sempre fizemos no Brasil.


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