Folha de S. Paulo


Corinthians é líder porque manteve estilo, ao contrário do São Paulo

Agustin Marcarian/Reuters
Ossada suspeita de ser de João Leonardo da Silva Rocha, morto na ditadura militar, é exumada em Palmas do Monte Alto (BA)
Jogadores do Corinthians cumprimentam torcida depois de eliminação na Copa Sul-americana

O Corinthians tem chance de escalar hoje o time que nunca perdeu. A base de Fábio Carille tem Cássio, Fagner, Balbuena, Pablo e Arana; Gabriel e Maycon; Jádson, Rodriguinho e Romero; Jô.

Com os onze juntos, o Corinthians disputou onze partidas em 2017, venceu sete, empatou quatro, não foi derrotado nenhuma vez.

Compare com a escalação do São Paulo do primeiro turno: Renan Ribeiro, Douglas, Lucão e Maicon; Marcinho, Jucilei, Milittão e Júnior Tavares; Cícero; Gilberto e Pratto. Renan Ribeiro, Cícero e Gilberto são reservas, Marcinho está machucado, Júnior Tavares e Jucilei treinaram durante a semana, mas não são titulares, Militão trocou a cabeça de área pela lateral direita, Douglas está na Chapecoense, Lucão no Estoril, Maicon no Galatasaray.

Muricy Ramalho lembra-se de que o São Paulo, há dez anos, procurava jogadores que se encaixassem ao estilo de jogo. Quem define e mantém um jeito de jogar tem mais chance de vencer.

Há dois anos, Tite imaginava Maycon para o lugar de Elias. O antigo titular não está bem no Atlético-MG. Maycon pode ser campeão brasileiro.

O Corinthians é um caso raro no Brasil.

Outro era o Santos. Quando Luis Álvaro dizia que o clube tinha DNA, era verdade. O Santos desta década joga com a bola no pé, troca de passes e no ataque. Com Leandro Donizete pode ficar diferente.

Há duas semanas, no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, Levir Culpi opinou sobre a razão de o Brasileirão ter mais vitórias de quem tem menos posse de bola. Afirmou que o espaço diminuiu pelo preparo físico dos jogadores. É verdade.

Isto deveria exigir a criação de novas estratégias de ataque, não de contra-ataque.

Logo depois de lançar "A Pirâmide Invertida" no Brasil, em 2016, o jornalista inglês Jonathan Wilson, autor do livro, disse que o Brasil é um país rico do ponto de vista tático. Sua explicação: "Quando falamos em tática, parece que falamos em defesa. Não é só isso. É importante ter estratégias ofensivas, como o Brasil tinha até os anos 1970".

O São Paulo de 2007 e o Corinthians de 2017 são exemplos de equipes seguras, não de repertório ofensivo. Sabem o que querem e isto é bom. Não dão espetáculo –e nem precisam.

"O São Paulo aceitou um jeito de jogar que exigia marcação forte. Como o Corinthians agora", afirma Muricy.

Este ano dá lições especiais. Quem contrata pela repercussão quebra a cara.

Em fevereiro, questionado sobre a venda do volante Walace, o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, respondeu que tinha um elenco forte e jovem. Citou Arthur. É a diferença entre quem conhece futebol e quem apenas o ama.

O Grêmio é o único sobrevivente brasileiro na Libertadores, porque apostou em jogadores talentosos e desconhecidos, como Michel, e porque formou Luan e Arthur. Você os conhecia há dois anos?

O Corinthians é o líder do Brasileirão porque, no ápice da crise, sem saber para onde ir, escolheu Fábio Carille, parte da formação do estilo de jogo desde Mano Menezes, 2009, até Tite, 2016.

O São Paulo desespera-se, porque desmontou uma equipe e montou outra no meio do ano.

A bola até entra por acaso. Mas o trabalho ajuda bem.


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