Folha de S. Paulo


Após o clássico, Palmeiras e São Paulo terão que trabalhar contra a pressão

Jales Valquer/Fotoarena/Folhapress
Técnico Cuca comanda treino do Palmeiras, na zona oeste de São Paulo, para o duelo contra o Vasco, pelo Campeonato Brasileiro
Técnico Cuca comanda treino do Palmeiras, na zona oeste de São Paulo

No meio desta semana, Cuca fez uma coisa rara para os treinadores da atualidade. Pediu para dar entrevista. Queria tirar a pressão dos ombros dos jogadores e tentar mostrar que a cobrança externa não vai influenciar nas decisões do Palmeiras.

Pelo menos uma dezena de conselheiros solicitou conversa com o presidente Maurício Galiotte para ter explicações sobre os resultados deste ano. A torcida uniformizada pediu a saída de Alexandre Mattos. Depois, de Cuca.

Não é porque a torcida e o conselho exigem que se deva fazer. No futebol brasileiro, tudo é emocional. Não pode ser assim.

A derrota para a Chapecoense a tensão na Academia de Futebol, mas uma vitória no último domingo não aliviaria muito os efeitos da eliminação da Libertadores. O remédio imediato é ganhar o clássico do São Paulo.

Como haverá duas semanas de espera até a próxima rodada do Brasileirão, vencer o Choque-Rei representará quinze dias de paz.

O São Paulo nem pensou neste cenário de tranquilidade. Por mais que tenha treinado para ganhar o clássico, a sabedoria indica ter estratégia para suportar as próximas duas semanas na zona do rebaixamento.

Prepara-se para a crise, porque é mais provável permanecer na situação atual do que sair dela na segunda-feira.

O São Paulo nunca conheceu este cotidiano de protestos, xingamentos, angústia, de estar muito distante das conquistas.

Há nove anos, quando foi tricampeão brasileiro, parecia possuir uma receita pronta para vencer. Havia estabilidade política, estilo de jogo definido e comissão técnica permanente. Tudo isso contribuía para as vitórias e estas para a paz do ambiente.

Era um ciclo virtuoso. Havia três anos seguidos de trabalho. Hoje, não há nem três meses.

E cobram-se resultados na mesma medida.

O Palmeiras da torcida uniformizada e da histeria nas reuniões de condomínio -ou melhor, do Conselho Deliberativo- procura exatamente por este ciclo virtuoso. A comissão técnica permanente desfez-se porque Cuca quis descansar e o assistente Alberto Valentim preferiu tentar a carreira solo no Red Bull. Voltou depois do retorno de Cuca e a pedido dele.

Mais do que isto, o Palmeiras não tem paz política, porque ela só existiu no Parque Antarctica quando os resultados ajudaram. Ou seja, nas épocas de Ademir da Guia e da Parmalat.

Também não há um estilo de jogo que identifique o clube.

Como joga o Palmeiras de hoje?

E o São Paulo de hoje?

Ninguém sabe ao certo.

Mas o de 2008, todo mundo sabia. Com poucas alterações, o São Paulo tinha um rosto entre 2003 e 2008, de Cuca a Muricy.

Este estágio o Palmeiras não atinge desde a saída de Felipão, em 2000.

Era uma feição fechada, menos alegre do que o Palmeiras das Academias ou de Vanderlei Luxemburgo. Mas tinha um jeito definido de jogar.

Há dez anos, o São Paulo aparentava tranquilidade eterna. Hoje, precisa da vitória para ter duas semanas de paz.

O Palmeiras também quer vencer para ter 15 dias de trabalho sem pressão.

A paz perfeita pode demorar mais. Pelo menos o tempo para ter certeza se o Palmeiras terá a cara de Cuca até o fim de 2018.


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