Folha de S. Paulo


Por que clubes do país não têm sucesso nos torneios sul-americanos?

Nelson Almeida/AFP
Jogadores do Palmeiras lamentam eliminação para o Barcelona de Guayaquil
Jogadores do Palmeiras lamentam eliminação para o Barcelona de Guayaquil

A maior ironia da eliminação do Palmeiras contra o Barcelona de Guayaquil é o fato de a camisa verde ter estampado o nome da Crefisa e, na amarela, o patrocinador ser o Banco Pichincha -pechincha, em português. O Barcelona tem orçamento de 10 milhões de dólares por ano. No Parque Antarctica, o departamento de futebol gasta 56% da receita total. Em torno de 75 milhões de dólares.

É irônico o Pichincha vencer a Crefisa, ainda que seja raso o argumento da vergonha por gastar mais e ser eliminado mais cedo. Durante toda a década passada, o Barcelona gastou muito menos do que o Real Madrid e venceu bem mais. O Real não era vergonhoso.

A discussão precisa ser mais profunda. Por que os clubes brasileiros não têm tido sucesso nos torneios sul-americanos?

O diagnóstico da falta de talento aplicado nas crises da seleção caiu por terra desde a chegada de Tite.

Dizer que o Brasil está de costas para a América Latina e não contrata técnicos e jogadores sul-americanos também já era...

Contrata-se muito e, no máximo, 30% dos gringos dá certo.

Resta a questão central. No Brasil, montar time é sinônimo de contratar. O verbo deveria ser treinar.

É uma das razões para o técnico da seleção não enxergar mais de três equipes jogando em alto nível no Brasileirão.

Ninguém entende por que o Flamengo não chegou ao nível ideal, mas todos comemoram a entrada na equipe de Éverton Ribeiro, Rhodolfo e Geuvânio, durante a temporada. Com Éverton Ribeiro, mudou o espaço para Diego jogar, por exemplo. Requer adaptação.

Quando o Corinthians venceu o Botafogo-SP, no dia 9 de abril, em meio às críticas gerais, você pode ter lido aqui que o time poderia ficar bem forte.

A diferença do Corinthians em relação aos demais é o plano de jogo definido desde 2008. Você dirá que Adílson Batista fracassou em 2010, que Tite foi mal em 2013, vai se lembrar das passagens ruins de Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira, no ano passado. Lá, também há vacas magras.

Mas o Corinthians tem seu estilo há nove anos.

O conselho deliberativo do Palmeiras questiona Alexandre Mattos, uma parte da torcida lamenta a ausência de Paulo Nobre, durante o período de Eduardo Baptista pedia-se o retorno de Cuca. Tudo no Palmeiras ainda é personalista.

Não existe aquilo que o Santos chamava de DNA.

No caso do Palmeiras, falta juntar ao dinheiro da Crefisa e às contratações de Alexandre Mattos o processo para ter 30% do elenco vindo da base, a estratégia e o plano de metas para os próximos cinco anos, o teto de gastos para cada temporada, a profissionalização de todas as áreas estratégicas. Tudo isto de uma maneira que não se sinta a falta de uma única pessoa.

Isto tudo falta à maior parte dos times do Brasil. O caso palmeirense entra aqui em estudo porque entrou na bibliografia dos times que gastaram muito e não venceram nada. Caso da Sele-Corinthians, montada em 1985, com Dunga, Casagrande e Serginho Chulapa, ou do Flamengo de 1995, do ataque Edmundo, Romário e Sávio.

O Palmeiras saiu das trevas para os títulos nos últimos três anos. Mas falta o salto definitivo para ficar perto de todos os títulos sempre.


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