Folha de S. Paulo


Neymar pode virar ponto turístico francês

Lionel Bonaventure/AFP
Brazilian superstar Neymar poses with his new jersey during his official presentation at the Parc des Princes stadium on August 4, 2017 in Paris after agreeing a five-year contract following his world record 222 million euro ($260 million) transfer from Barcelona to Paris Saint Germain's (PSG). Paris Saint-Germain have signed Brazilian forward Neymar from Barcelona for a world-record transfer fee of 222 million euros (around $264 million), more than doubling the previous record. Neymar said he came to Paris Saint-Germain for a
Neymar rescindiu contrato com o Barcelona e assinou por cinco temporadas com o PSG

Paris está entre as cidades mais visitadas por turistas no mundo. Sempre houve muito para ver na Cidade Luz. Nunca, o futebol. Barcelona é diferente. Desde o seu renascimento, com a Olimpíada, 25 anos atrás, a capital da Catalunha entrou no roteiro turístico, para ver a Sagrada Família, as Ramblas, a Barceloneta... Sobretudo, o Barça.

"Tan se val d'on venim, si del sud o del nord." O hino do Barcelona diz que não importa de onde venham, se do sul ou do norte. Nas últimas duas décadas, o mundo com poder econômico para viajar foi à Catalunha ver futebol.

À França, foi ver outras coisas. Agora, Neymar pode virar um ponto turístico e o Parc des Princes receber quem visita o Louvre, o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel.

O futebol em Paris nasceu em 1891, com o White Rovers, fundado por britânicos. Se no século 19, o primeiro time parisiense tinha o inglês como idioma, por que o futebol seria prioridade?

Ocorre que foi um jornalista francês, Gabriel Hanot, o idealizador da Copa dos Campeões da Europa, e só uma vez a França a conquistou. Em 1993, com o Olympique de Marselha, presidido por Bernard Tapie, ministro
do governo socialista de François Mitterrand e mais tarde preso por corrupção.

Finalista da Liga dos Campeões, o país só voltou a ser com o Monaco, em 2004. Nos anos 1980, o empresário Jean Luc-Lagardere colocou sua fortuna e a marca de sua empresa, a fábrica de carros Matra, junto com o nome do Racing, clube parisiense fundado em 1896. A ideia era ser campeão europeu em cinco anos.

Para os padrões dos anos 1980, o Matra Racing foi um assombro financeiro. Contratou o uruguaio Enzo Francescoli, o alemão Littbarski, o camaronês Ekéké, os franceses Luis Fernandez e Ginola... Em 1989, a Matra desistiu do Racing e o projeto naufragou.

Naquela época, Paris era diferente e o futebol muito menos multinacional. O Paris Saint-Germain foi a fusão do Paris FC com o Stade Saint Germain, de Saint-Germain-en-Laye, periferia da cidade, onde nasceu Luís XIV. Historicamente, o Olympique de Marselha tem a torcida mais presente da França, mas o PSG superou a média de público nas duas últimas temporadas.

Não é o time de quem está Rive Gauche nem Rive Droite, mas bem longe do Sena, no subúrbio. Quem desceu no aeroporto Charles De Gaulle e foi ao centro da cidade de metrô sabe qual povo torce pelo Paris Saint-Germain.

Gente como Kylian Mbappé, craque do Monaco, nascido em Bondy, periferia norte. Quem assistiu ao filme "Atrás dos Muros da Escola" também conhece os fãs que mudaram o perfil da torcida. Marroquinos, argelinos, tunisianos, árabes de todos os tipos.

Mbappé é torcedor do PSG. A periferia torce, mas não tem dinheiro para pagar ingresso. Não é tão diferente do Barcelona, onde 20% do público é composto por turistas.

Neymar, mulato de olhos verdes, jogando em Paris, num time de empresário do Qatar, apoiado por torcedores negros e árabes, é um símbolo de um futebol que jamais existiu. Onde tudo se mistura.

Como o Racing de Paris dos anos 1980, Neymar tem cinco anos para fazer Paris ter um clube campeão da Europa.


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