Folha de S. Paulo


Clubes esboçam resistência contra vendas no meio do ano

Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação
Sport x Palmeiras
Com patrocínio "robusto" da Crefisa, Palmeiras é um dos times com mais poder aquisitivo

A profecia do apocalipse não se confirmou. Não há hegemonia de Corinthians e Flamengo no futebol brasileiro, como se fossem Barcelona e Real Madrid, abaixo da linha do Equador. Não há, nem haverá, espanholização do futebol no Brasil, especialmente porque a partir de 2019 a divisão das cotas será mais equilibrada.

Mas as duas maiores torcidas do país passaram a fazer parte de um seleto grupo que esboça resistência contra as vendas de jogadores no meio da temporada. O êxodo que atrapalha o São Paulo na luta contra o rebaixamento é tratado de maneira diferente por Flamengo, Corinthians e Palmeiras.

"A melhor situação econômica nos torna mais seletivos", diz o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.

Parece absurdo incluir o Corinthians mesma categoria, apenas 18 meses depois de o clube sofrer desmanche com a perda de oito campeões brasileiros titulares de 2015. De fato, o caso corintiano é diferente.

O Corinthians tem receita semelhante à do Flamengo, mas a dívida de curto prazo atrapalha. Mesmo assim, nesta semana o clube rechaçou a hipótese de perder Arana no meio do Brasileirão.

"Recusamos negócios desde a tentativa do Fenerbahçe para contratar Rodriguinho, em janeiro. Podemos vender, mas o jogador só vai em janeiro", afirma o diretor de futebol, Flávio Adauto.

É diferente do que aflige a maior parte dos candidatos a títulos no futebol brasileiro.

"Eu consigo resistir um pouquinho, sem a mesma capacidade desses times", diz Daniel Nepomuceno. O clube do qual é presidente, o Atlético-MG, está perdendo Rafael Carioca, para o Tigres, do México.

Embora a percepção da fragilidade do futebol doméstico do Brasil persista, é bom notar diferenças em comparação com a década passada.

Em 2009, Flamengo e Corinthians arrecadavam R$ 25 milhões de direitos de televisão. Hoje ganham em torno de R$ 170 milhões. No ano passado, o Flamengo demonstrou R$ 297 milhões em seu balanço, incluídos
R$ 120 milhões de luvas.

Por isso, é possível dividir os clubes brasileiros em camadas econômicas. No alto da pirâmide, Flamengo, Corinthians e Palmeiras, este pelo patrocínio da Crefisa. Na faixa intermediária, Atlético, Santos, Grêmio, Cruzeiro e São Paulo, misto de potencial econômico das cidades onde estão sediados e da teimosia de mineiros e gaúchos.

O Vasco estaria nesta faixa, se não precisasse pagar pelos pecados de várias gerações de dirigentes.

Bem abaixo estão Botafogo e Fluminense.

A receita não é proporcional aos resultados. O Palmeiras corre o risco de fechar 2017 sem nenhum título. O Flamengo convive com histeria da torcida, apesar da classificação para as semifinais da Copa do Brasil e do título estadual, em função da eliminação da Libertadores e de decisões discutíveis do técnico Zé Ricardo.

Para o Flamengo ter paz, é fundamental vencer o clássico deste domingo. Se Corinthians ganhar ou empatar, quebrará o recorde do Flamengo, invicto nas primeiras 16 partidas do Brasileiro de 2011. Nos quatro maiores campeonatos da Europa, só o Chelsea alcançou 43 pontos na 17ª rodada, ano passado. Diferentemente do Corinthians, não estava invicto.


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