Folha de S. Paulo


A vantagem não é ter mais opções para revezar, e sim um time base para jogar

Walmir Cirne/Coofiav/Folhapress
Atacante Jô, do Corinthians, comemora seu gol no triunfo sobre o Vitória, por 1 a 0, na Fonte Nova, em Salvador (BA), neste domingo
Jogadores do Corinthians comemoram gol no triunfo sobre o Vitória, pelo Campeonato Brasileiro

O Santos de Pelé disputou apenas dez jogos com sua formação clássica, todos juntos: Gilmar, Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Venceu nove vezes, perdeu uma, do Botafogo, em 1963.

O Corinthians de Carille tem seus onze titulares conhecidos: Cássio, Fágner, Balbuena, Pablo e Arana; Gabriel e Maycon; Jádson, Rodriguinho e Romero; Jô.

Neste ano, esta equipe inteira disputou onze partidas. Não perdeu nenhuma. São sete vitórias e quatro empates.

Pesquisar formações clássicas surpreende. Os onze campeões mundiais pelo Flamengo jogaram só quatro vezes completos. Perderam uma, do Vasco.

O imbatível onze corintiano ilustra uma lição sobre o atual Brasileiro. Fala-se sobre elenco numeroso. Este campeonato está diferente.

O Corinthians só escalou dezesseis titulares, começando partidas, desde a primeira rodada.

É o menor número entre os 20 participantes. O Grêmio e o Atlético-MG escalaram 28 e o Palmeiras, 25. Havia dúvida no início de 2017 sobre as disputas simultâneas de Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, até novembro.

Iríamos aprender como seria. Estamos aprendemos que ter uma base conhecida vale mais do que ter um grupo homogêneo.

Mas cuidado para não ser definitivo. Isto vale para quem disputa prioritariamente uma competição, como é o caso do Corinthians.

Quem tem mais grupo reveza mais e se complica mais.

"É fundamental ter a tecnologia, os exames que demonstram quem está bem e quem pode se machucar, mas não pode ser isto a determinar a escalação da equipe", diz Fábio Carille.

"Não temos lesões há sete semanas e manter a base tem sido muito importante", completa o técnico líder do Brasileiro.

A prévia do dérbi de quarta-feira (12) indicou bem isto. O Corinthians escalado, sem mistério, com o time que não perde. "Não fizemos nenhum treino fechado neste ano", orgulha-se Carille.

O Palmeiras podia ter Luan ou Edu Dracena na zaga, Egídio ou Zé Roberto na lateral, Tchê Tchê na direita ou no meio, Willian como centroavante ou como ponta... Neste Brasileiro, a polivalência perde da manutenção. Tem a ver com o acúmulo de jogos.

Cuca apresentou-se ao Palmeiras no dia 9 de maio. No domingo seguinte, 14, estreou contra o Vasco. Em sessenta dias, foram 18 jogos, oito vitórias, dois empates e outras oito derrotas.

Nenhuma semana completa de treinos.

Desde 9 de maio, o Corinthians saiu da Copa do Brasil e teve quatro semanas livres, sem partidas na quarta ou na quinta. Só treinos.

Isso não diminui a exuberância do líder. Mostra como as competições simultâneas podem ser responsáveis pelo torneio mais desequilibrado de todos.

Os times que jogam Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores completarão 29 jogos com intervalo de três dias, desde 14 de maio até 27 de agosto. Três meses sem parar.

A vantagem não é de quem tem mais jogadores para revezar. Mas, sim, de quem tem um time base para jogar. O depoimento de Carille confirma. O Corinthians que não perde, também.


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