Folha de S. Paulo


O fiasco dos favoritos

Thiago Ribeiro/Agif/Folhapress
Diego, do Flamengo, bate na bola no empate sem gols com o Botafogo, no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, pelo Brasileiro
Diego, do Flamengo, bate na bola no empate sem gols com o Botafogo

Desde que o Brasileirão passou a ser disputado por vinte clubes, em 2006, jamais o líder da quinta rodada terminou campeão. Quem chegou mais perto foi o Cruzeiro de 2014, que estava em quinto lugar depois de cinco jogos e assumiu a liderança no sexto. Isto não justifica o início pífio dos três clubes de maior investimento: Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras.

Se o líder no início nunca termina campeão, também ninguém saiu das profundezas da tabela para alcançar o troféu. As viradas mais significativas são do São Paulo, em 2008, e do Flamengo de 2009.

Ambos estavam em 11º lugar depois de cinco jogos. O Flamengo caiu para 15º na sexta rodada e produziu a mais incrível recuperação da história do Campeonato Brasileiro.

Na 23ª rodada, tinha 12 pontos a menos do que o líder. Terminou campeão.

O Brasileirão é um torneio peculiar. Em três dos quatro maiores campeonatos nacionais do mundo, o campeão se anunciou na quinta rodada ou antes dela. O Bayern, a Juventus e o Real Madrid ocupavam a primeira colocação a esta altura. Foram ameaçados, perderam a ponta, mas sinalizaram que seriam campeões cedo.

O Leicester, em sua temporada de conto de fadas, estava em segundo lugar depois de cinco partidas.

Aqui, a janela de contratações está sempre aberta e continua se falando sobre o Flamengo e o Palmeiras no mercado. Contrata, contrata, contrata... E a estrela capaz de resolver um jogo sozinho nos dois times, nos últimos dois anos, foi formada em casa: Gabriel Jesus.

Jales Valquer/Fotoarena/Folhapress
Roger Guedes comemora ao marcar o 3º gol do Palmeiras na vitória sobre o Fluminense, no estádio Allianz Parque (SP), pelo Brasileiro
Roger Guedes comemora ao marcar o 3º gol do Palmeiras na vitória sobre o Fluminense

A NBA espanholizou-se antes do Brasileirão. Apesar de todas as regras para manter o equilíbrio, há três anos o basquete americano tem os mesmos dois times na decisão: Golden State x Cleveland.

Aqui, o diretor de futebol do Corinthians, Flávio Adauto, admite não ter condição de rivalizar em reforços com Palmeiras e Flamengo. É líder. O Corinthians é o segundo do país em faturamento e só não está hoje entre os mais ricos por acúmulo de dívidas.

Este é outro problema.

Dá tempo de Palmeiras, Atlético e Flamengo desmentirem a história e brigarem pela taça. Mas há lições a tirar deste início de Brasileirão. Se não houver planejamento, não tem dinheiro que dê jeito.

Nada é parâmetro. O Estadual não é, mas Coritiba e Corinthians, campeões paranaense e paulista, começam bem. Contratações não são parâmetro, porque quem gasta sem planejamento corre o risco de ter um elenco que não combina com o estilo do novo técnico, caso explícito do Palmeiras. Libertadores não é parâmetro, porque o Santos é o único invicto do torneio continental e sofreu para conseguir duas vitórias mirradas contra Coritiba e Botafogo.

É incerto quanto tempo os favoritos vão ficar por baixo. Esta é a razão para procurar respostas nas tabelas de classificação dos anos anteriores. Para descobrir que só o Flamengo de 2009 é exemplo
de recuperação.

No livro "Febre de Bola", Nick Hornby tem uma frase brilhante sobre torcer por um clube que não ganha títulos por décadas. Merece o plágio: acreditar que um time saia de 16º lugar para ser campeão brasileiro é como acreditar em Deus. Você pode crer ou não. Mas sabe que não há argumento lógico para explicar sua crença.


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