Folha de S. Paulo


Maracanã continua jogado às baratas, enquanto não se decide para quem vai

A Maracanã S.A., controlada pela Odebrecht, reabrirá o maior do mundo no dia 8 de março, para a estreia do Flamengo na Libertadores. Depois, sinaliza que pode liberar o campo para as finais do estadual do Rio. É pouco. Às vezes, parece que a Odebrecht faz um favor ao abrir o estádio. Não faz.

O contrato lhe dá o direito de exploração, mas a licitação original obrigava a ter acordo com dois clubes de futebol. Hoje, tem só com o Fluminense e não o está cumprindo. O Flu não joga lá desde 15 de novembro.

O Maracanã continua às baratas, enquanto não se decide se será vendido pela Odebrecht para a Lagardère ou para o consórcio CSM/GL Events.

Na terça-feira, circulou a informação de que a GL Events tinha saído da concorrência. Não é verdade. Na quinta, houve reunião da Odebrecht com GL Events, CSM e Flamengo. Houve progressos e o encontro só não foi mais produtivo, porque o assunto é muito complexo.

Na concorrência inicial, a Odebrecht se comprometeu a desembolsar R$ 600 milhões em melhorias, mas o valor precisa ser revisto, por causa do impedimento da demolição do Júlio Delamare e do Museu do Índio.

Estima-se hoje em R$ 150 milhões. Só que Odebrecht e governo nunca põem o valor no papel.

A GL Events pede que sejam colocadas as condições às claras. A Lagardère está composta com a Food Team, que tem como sócio um dos netos de Emílio Odebrecht, Emílio Odebrecht Peltier de Queiroz. Também com a Binarios, de dois ex-diretores da empreiteira.

Está claro que a Lagardère é a preferida da Odebrecht. Ser favorita não pode significar ser favorecida.

Há uma série de incertezas sobre a viabilidade econômica. Além disso, o fato de o governo permitir a revenda da concessão pode permitir discussões jurídicas. Há também vícios na licitação original denunciados na Lava Jato. Por tudo isso, a negociação tem de ser detalhada.

A única saída indiscutível seria realizar outra licitação. Aceitar todas as condições sem discutir um plano de viabilidade significa a chance de quebrar o estádio daqui a dois anos. Pode ficar ainda pior do que já está.

O Flamengo diz que não jogará no Maracanã, se a Lagardère ganhar a concorrência. Gente da Lagardère interpreta a opção do Flamengo abrir sua participação na Libertadores no Maraca como prova de que não vive sem o estádio.

Não é isso. O Flamengo procura alternativas provisórias enquanto não tem a definitiva. Há estudos sobre terrenos para construção de um novo palco em Niterói e na Barra da Tijuca. Mesmo com o Flamengo, o Maracanã tem riscos. Sem os clubes, muito mais.

De todas as novas arenas do Brasil, uma que tem dado lucro é o Allianz Parque. Está muito abaixo de seu potencial, sem inaugurar o museu do Palmeiras nem os restaurantes, mas as contas do clube no ano passado indicam que a receita proveniente do estádio foi de R$ 163 milhões, contra R$ 85 milhões do contrato de TV.

Tem a ver com a bilheteria no dia do jogo e com a venda dos naming rights.

Mais um sinal de que o Maracanã precisa do futebol. Ele foi construído para isso.

Mas o futebol brasileiro também precisa do Maracanã de volta. Urgentemente.


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