Folha de S. Paulo


Pergunta é se é melhor contratar estrangeiros ou manter promessas

Miguel Borja e Lucas Pratto deixaram clara a rejeição à ideia de jogar na China. Preferem o Brasil. Representam o contraponto de brasileiros que deixam o país, muitas vezes sem nem saber como é a terra aonde chegarão.

Até cinco anos atrás, a ideia de contratar estrangeiros tinha a ver apenas com o preço. Buscar jogadores na Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Chile e Venezuela custava mais barato. Mas comprar no sacolão é uma das razões de o índice de acerto ser, com boa vontade, de no máximo 35%.

Em vez de trazer Pastore, do Huracán, sobre quem os observadores europeus já tinham indicado a compra, o Corinthians apostava em Defederico, do mesmo clube. O primeiro era o craque, o segundo o coadjuvante. A chance de erro era maior.

À medida em que o dinheiro na compra aumenta e a observação melhora, diminui a possibilidade de equívoco –ao menos em teoria. Só que as contas de Pratto e Borja são altíssimas.

Borja é a quarta compra mais cara da história dos clubes do Brasil –R$ 32 milhões. Pratto é o oitavo e custará ao São Paulo R$ 22 milhões. Uma pergunta é se vale mesmo mais a pena contratá-los em vez de manter David Neres, vendido por R$ 50 milhões, ou Gabriel Jesus, por R$ 112 milhões.

No caso de Gabriel, o valor justifica a venda. No São Paulo, a razão da escolha é, em parte, a certeza de um jogador formado contra a incerteza de uma revelação.

Mas o primordial é que Neres quer ir para a Europa. Todo jogador nascido aqui quer. Borja e Pratto, no atual momento de suas carreiras, desejam o Brasil.

No ano passado, o Atlético acertou a contratação de Calleri e preparou a venda de Pratto para a China. Depois de o São Paulo atravessar a negociação por Calleri, o Atlético cobrou o compromisso de Pratto de que permaneceria até o final da Libertadores. Pratto cumpriu.

Há dez dias, Pratto avisou a diretoria que não pretendia ficar no Atlético, por saber que não teria chance na disputa com Fred. O Atlético compreendeu e pediu que ele conseguisse uma proposta. O agente de Pratto levou a oferta do São Paulo dois dias depois.

Pratto não teve convite da Europa e não quer a China, porque tem sido chamado por Edgardo Bauza e pretende jogar a Copa do Mundo pela Argentina.

Do ponto de vista estratégico, do fortalecimento do futebol dos clubes e da seleção no Brasil, melhor seria investir e manter talentos que brotam aqui. Segurar Jorge em vez de comprar Berrío, manter David Neres em vez de pagar caro por Lucas Pratto, fazer um plano de médio prazo com Gabriel Jesus, como o Santos fez com Neymar.

A lógica dos jogadores brasileiros e estrangeiros é a mesma: vai-se para onde se paga mais. O Brasil está pagando bem e oferece visibilidade para os técnicos das seleções sul-americanas.

Para nós, parece que o Brasileiro é invisível. Viajando pela América do Sul percebe-se que não é. Quando o zagueiro Mina, do Palmeiras, machucou-se num jogo contra o Santos numa terça-feira à noite, os programas de TV da Colômbia amanheceram falando da lesão.

Por isso, os gringos querem jogar aqui. E nossos pequenos prodígios continuam ouvindo de seus agentes que, no Brasil, a única saída é o aeroporto.


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