Folha de S. Paulo


Prêmio privilegia a escolha do melhor jogador da equipe com mais títulos

Cristiano Ronaldo deve receber hoje o prêmio "The Best", entregue pela Fifa ao melhor jogador de 2016. É justo. Conduzido por seu craque, o Real Madrid conquistou a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes e a Supercopa da Europa. Ajudado por Cristiano, Zidane tem neste momento mais títulos (três) do que derrotas (duas) em 54 partidas.

Só que o prêmio da Fifa é individual e Cristiano receberá o troféu impulsionado pelo sucesso coletivo de sua equipe.

Em 2016, Cristiano Ronaldo disputou 57 partidas, marcou 55 gols e ofereceu 17 assistências, somadas as aparições pelo Real Madrid e pela seleção portuguesa. De janeiro a dezembro, Lionel Messi participou de 61 partidas, marcou 59 vezes e deu 31 assistências.

Estatística não é tudo.

Título também não.

Perceba que no primeiro parágrafo deste texto está escrito que o troféu de Cristiano Ronaldo é justo. Pela primeira vez, este colunista foi convidado a votar. Escolhi Cristiano Ronaldo em primeiro, Messi em segundo e Neymar em terceiro. Isso apesar de ter ponderado várias vezes por que Neymar em vez de Griezmann. A resposta foi que Griezmann chegou a mais decisões, mas Neymar é mais talentoso. A lógica do voto para o terceiro colocado não se refletiu na escolha do primeiro. Contradição.

É mesmo contraditório o prêmio de melhor do planeta, entregue pela Fifa desde 1991 e em conjunto com a revista "France Football" de 2010 a 2015. Está claro que não se deve premiar o maior craque do planeta, mas o melhor do ano, de janeiro a dezembro.

Em 2003, isso ficou mais explícito. A revista "France Football" elegeu o tcheco Pavel Nedved e a Fifa premiou Zinédine Zidane. O francês era o melhor jogador do mundo, indiscutivelmente. Mas Nedved tinha sido o melhor do ano.

Era como se Zidane fosse premiado pelo conjunto da obra. Mas não é esse o objetivo do troféu.

De 2006 para cá, quase sempre foi eleito o melhor jogador do time mais vitorioso. Desde Cannavaro, eleito pela Fifa exclusivamente por causa do título mundial da Itália, onze anos atrás. Cannavaro nunca foi o maior craque do planeta, nem sequer daquele ano.

Editoria de Arte/Folhapress
Campinhos do PVC - 09/01/2016 - Cristiano Ronaldo - Messi
Campinhos do PVC - 09/01/2016 - Cristiano Ronaldo - Messi

Em 2007, Kaká agradeceu as premiações da Fifa e da "France Football" com incrível sobriedade: "O prêmio individual só acontece por causa do desempenho coletivo."

Justo. Se o Milan não ganhasse a Liga dos Campeões, Kaká talvez não fosse escolhido, apesar de ter jogado mais do que todos os demais. Aquela foi a primeira vez que Messi e Cristiano apareceram no pódio, o argentino em segundo, o português em terceiro.

No ano seguinte, deu Cristiano Ronaldo, também campeão da Liga dos Campeões. Veio um tetracampeonato de Lionel Messi, Cristiano voltou a vencer em 2013 e 2014, Messi em 2015.

Se o ano é do Barcelona, vence Lionel. Se é do Real Madrid, ganha Cristiano. Esta é a vez do português, portanto. Sem dúvida.

Só que a disparidade dos números faz pensar. Messi marcou mais gols, deu mais passes e disputou mais jogos.

Por que mesmo Cristiano Ronaldo será eleito?

Ah, sim, porque o Real Madrid ganhou os principais troféus.

Até este colunista viciou-se na resposta fácil. O problema é que o prêmio é para o melhor desempenho individual, não coletivo.

VISIBILIDADE

Desde que o prêmio da Fifa foi criado, em 1991, só jogadores de Barcelona, Real Madrid, Milan, Inter de Milão, Juventus e Manchester United foram premiados. Ser visto em todos os cantos do mundo faz toda a diferença. Não deveria ser só assim.

DIFÍCIL MUDAR

Seria bom se a Fifa aumentasse o leque. É difícil. Mas já houve anos em que se poderia cogitar se alguém fora deste ciclo merecia mais. Edmundo em 1997 e Riquelme em 2007 poderiam aparecer entre os três. Como perceber e premiar isso é o dilema.


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