Folha de S. Paulo


Ampliar protagonismo no futebol exige questões técnicas, não ganância

Fabrice Coffrini/AFP
FIFA president Gianni Infantino talks during a press briefing on October 13, 2016 at the world football's governing body headquarters in Zurich. / AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI ORG XMIT: FAB306
Gianni Infantino, presidente da Fifa

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, diz que não pretende ser um ditador no debate para aumentar o número de seleções nas Copas do Mundo a partir de 2026.

Nas duas visitas que realizou ao Brasil, seu discurso foi de descentralizar o futebol do planeta. Infantino não gosta da ideia de que só existe futebol de alto nível na Alemanha, Inglaterra e Espanha, reforçada pelas conquistas desta década na Champions League.

Isto não significa que o caminho seja minar o maior torneio de clubes do mundo. O objetivo, segundo relatos de quem conversou com o presidente da Fifa no Rio de Janeiro, é reforçar os torneios continentais na América do Sul, Ásia e África, tentar tornar o esporte tão global quanto ele sempre foi.

É justo que um torcedor brasileiro se apaixone pelo Barcelona ou pelo Real Madrid por vê-los tantas vezes em transmissões pela televisão. Não é tão diferente de uma criança nascida em Manaus apaixonar-se pelo Vasco ou pelo Flamengo, como acontece no país desde os anos 1950.

O ponto é proporcionar a possibilidade de que um garoto na Holanda também conheça a importância do Santos, do Corinthians, do Palmeiras, do Grêmio, do Atlético... Não é tão utópico quanto parece.

Em agosto, perto de 15 mil pessoas foram ao Signal Iduna Park para a apresentação do Borussia Dortmund para a temporada 2016/17. No meio da multidão, havia um garoto holandês de 13 anos. Era torcedor do Ajax, mas compartilhava sua torcida com o Borussia e com o São Paulo. "Raí, Muller...", ele explicou.

A Copa do Mundo e as seleções nacionais são parte do processo de globalização do futebol. Mas apostar em 48 participantes é arriscar a hegemonia do evento mais importante dos últimos 90 anos.

A Copa do Mundo começou com 13 participantes em 1930, saltou para 16 –exceto em 1950, por causa das ausências provocadas pela guerra.

Nos anos 1970, João Havelange inchou o Mundial para 24 equipes. As razões foram políticas, mas hoje é correto imaginar que o evento tinha ficado grande demais para apenas 16 nações.

Só que o exercício para passar da primeira fase provocou fórmulas mirabolantes e dois vice-campeões mundiais classificados na repescagem em terceiro lugar na chave.

Incrivelmente, a Copa desinchou quando houve a ampliação para 32 países, em 1998. É o número perfeito, por permitir a eliminação de metade dos participantes até chegar à finalíssima entre os dois mais fortes.

Por mais que os torneios de clubes sejam a base da economia do futebol atualmente, as seleções ainda têm importância. Nas Copas do Mundo, famílias que nunca souberam a cor de uma bola sentam-se em frente à televisão para assistir ao seu time nacional. É o momento em que o público aumenta. Crianças que não tinham sido apresentadas ao esporte apaixonam-se. Esse novo jovem torcedor vira louco por futebol.

Para Infantino, o desafio não é apenas ser democrático. É mirar o futuro e entender o papel da Copa do Mundo para evitar que o futebol se restrinja a clubes de três grandes países europeus. Ampliar isso exige observações técnicas. Nada da ganância que caracterizou a casa Fifa nas últimas quatro décadas.


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