Folha de S. Paulo


EDADEIRADILOS

Se você ler o título desta coluna de trás para a frente vai entender o real sentimento da semana: Solidariedade. Veio da Colômbia, desde o primeiro dia, logo depois do acidente aéreo e da morte de 71 pessoas.

O Atlético Nacional pediu à Conmebol que declare o título da Copa Sul-Americana para a Chapecoense. Mais de 40 mil pessoas lotaram o estádio Atanasio Girardot no momento exato em que aconteceria a decisão. Tinham camisetas brancas e velas nas mãos para homenagear a Chape.

Escrita assim, como você lê no alto da página, a inversão da palavra solidariedade é o comportamento dos clubes brasileiros desde quinta-feira. Neste domingo sem futebol, o clássico será entre solidariedade x palhaçada.

A primeira declaração da CBF pedindo que houvesse até mesmo o jogo Chapecoense x Atlético-MG tinha como objetivo proteger o Brasileirão do oportunismo. No dia seguinte, o Internacional aproveitou o fato de o Atlético recusar-se a jogar em Chapecó para dizer que também não pode jogar contra o Fluminense, no Rio de Janeiro.

O Inter fez questão de comparar coisas desiguais para confundir, em vez de explicar.

Na quinta-feira, a CBF já admitia que Chapecoense e Atlético poderiam não perder pontos em caso de W.O. duplo, porque a ausência do jogo acontecerá por motivo excepcional. É também a primeira avaliação do STJD.
Contraste com o cinismo do dirigente do Internacional. O presidente colorado, Vitório Píffero, afirmou que não sabe como proceder, apenas entende que não pode mais haver futebol em 2016.

Ora, se o Internacional julga que não pode haver mais futebol em 2016, basta concluir a proposta: "Todos os clubes assinaremos que só haverá 37 rodadas e o Internacional admitirá o rebaixamento", poderia dizer Píffero.

Qualquer outra proposta de interromper o Brasileirão é cínica.

O presidente do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno, protocolou a solicitação para cancelamento do jogo contra a Chape. Logo em seguida, foi apoiado, mas alertado de que poderia haver oportunistas afirmando que o campeonato não teve todos os jogos e, portanto, não estava concluído.

"Ah, mas nesse caso eu vou morar em outro lugar, velho. Não é possível que alguém queira se aproveitar dessa situação num momento como este."

Mas, para surpresa de Nepomuceno, a profecia se cumpriu e a cara de pau tentou dar um golpe na solidariedade.

Está previsto no regulamento geral das competições a punição por não comparecimento a qualquer jogo: perda de três pontos por W.O. e multa de até R$ 100 mil.

Os clubes que não puderem entrar em campo têm essa opção. Há também a chance de exclusão do campeonato, se não houver motivo excepcional. O caso de Chapecoense x Atlético tem razão justa. Todas as outras partidas, não. Se o Internacional não quiser entrar em campo, que perca os três pontos, pague multa de R$ 100 mil e jogue a Série B do ano que vem.

A única coisa que o presidente Vitório Píffero conseguiu com a declaração, na última semana de seu mandato, foi transformar um clube histórico e tradicional em antipático.


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