Folha de S. Paulo


Crise no São Paulo é a falta de dinheiro antes da renovação do contrato de TV

O Clube da Fé virou o time da crise. A um ponto da zona de rebaixamento, o jogo de hoje contra o Figueirense virou confronto direto contra o descenso. Em casa, são três empates e quatro derrotas, soma maior do que as quatro vitórias conquistadas. Nem o Morumbi ajuda e isso indica também a pressão política que derrubou o diretor-executivo Gustavo de Oliveira na quarta-feira (7).

No início da semana, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva apresentou sua prestação de contas ao Conselho Deliberativo. Diminuiu 35% da dívida e 20% da folha de pagamento, compromisso imposto pelos cardeais no final do ano passado.

Leco poderia fazer um mandato populista. Lembre-se de que cumpre um período tampão, forçado pela renúncia de Carlos Miguel Aidar. Em vez de populismo, ele briga com os números, reduz o deficit e aumenta a receita.

Em janeiro, não havia dinheiro e o time foi montado sem custos. No meio do ano, Ganso pediu para ser negociado com o Sevilla e Calleri terminou seu contrato depois de seis meses fazendo gols apenas pelo salário –não houve pagamento para o Boca Juniors, seu emprego anterior.

As razões da crise são-paulina são evidentes e o trabalho no vestiário com o elenco do primeiro semestre é a única explicação para chegar às semifinais da Libertadores, a melhor campanha entre os clubes brasileiros. Mesmo assim, os conselheiros pressionaram e o diretor-executivo caiu.

A avaliação sobre o convite a Marco Aurélio Cunha para substituí-lo foi feita de maneira precisa por gente próxima a ele. Superintendente nas campanhas do título mundial de 2005 e do tri brasileiro entre 2006 e 2008, Marco Aurélio sabe que há pouco tempo, elenco médio, dinheiro escasso e risco eleitoral, a seis meses da escolha do novo presidente.

Divulgação/SPFC
Emocionado, MAC é apresentado e convoca torcida para fortalecer o Tricolor na temporada
Marco Aurélio Cunha após apresentação no Morumbi

O São Paulo tem muito a ganhar com Marco Aurélio. Ele só tem a perder. Os cardeais da oposição não dão trégua. Seja o folclórico Newton do Chapéu, que nunca fez o suficiente para ser levado a sério, sejam os mais importantes, como Fernando Casal de Rey ou José Eduardo Mesquita Pimenta. Até alguns aliados de Leco parecem estar em campanha aberta.

Emblemático que a saída de Gustavo de Oliveira tenha sido anunciada no Allianz Parque. O Palmeiras foi o maior picadeiro da política de clubes do país até quatro anos atrás. Hoje tem paz a ponto de Maurício Galiotte ser um candidato (quase) de consenso à sucessão de Paulo Nobre —seu nome deve ser anunciado como presidenciável até o final deste mês.

O circo das incontáveis correntes políticas agora é o Morumbi. O resultado esportivo é inversamente proporcional à pressão. O Palmeiras lidera o Brasileirão e o São Paulo briga para não entrar na zona da degola.

A causa da crise não é a cisão. É a falta de dinheiro antes da renovação do contrato de televisão. Há responsabilidade de Leco e Gustavo de Oliveira também, por escolhas erradas na montagem do novo elenco. Mas os problemas vêm de mais longe. Nos últimos oito Brasileiros, só uma vez o São Paulo teve o mesmo treinador da primeira à última rodada. Foi em 2014, ano de um vice-campeonato.

As rupturas só ampliam os problemas. O antídoto é conhecido de todos os são-paulinos. É só olhar para sua própria história.


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