Folha de S. Paulo


Micale tenta reimplantar o 4-3-3, que não se vê na seleção desde 1992

Rogério Micale quer o Brasil jogando como Brasil. Depois de tantas declarações de técnicos importantes e críticos das últimas conquistas da seleção, como Cesar Luis Menotti, para quem a seleção não joga bem desde a Copa do Mundo de 1986 —exagero— Micale tenta reimplantar o 4-3-3, que não se veste de amarelo desde 1992.

À época, Parreira escalava Mauro Silva, Luís Henrique e Raí, um volante forte e dois meias criativos. Micale afirma que usa três meias. O central, Thiago Maia, é um volante com boa saída de jogo. Rafinha cria pela meia esquerda e protege o setor de Neymar. Será seu guarda-costas.

"Quando tivermos a bola, quero um time que se movimente e tenha pelo menos quatro jogadores no ataque em busca do gol. Sem a bola, organização. Com ela, quero o caos. O caos organizado", diz o técnico. Ele sabe que tem a chance de sua vida.

Na meia direita, Felype Anderson deve perder o lugar para Renato Augusto. Mas foi o melhor jogador dos oito amistosos disputados pela seleção sob o comando de Micale. Jogou todos e marcou dois gols. No último deles, deu duas assistências contra a África do Sul, adversária da estreia, quinta-feira (4), em Brasília.

Editoria de Arte/Folhapress
Campinho PVC
Campinho PVC

Sábado, no último amistoso preparatório, contra o Japão, a seleção estreou Marquinhos, Renato Augusto, Neymar e William, que não tinham disputado nenhuma das sete partidas anteriores de Micale. Daí ser surpreendente tanta gente dizer que o Brasil é favorito para a medalha de ouro. Há talento e vários rivais vêm enfraquecidos. Mas os talentosos jogaram juntos pela primeira vez há dois dias. Futebol não é tênis, não é esporte individual.

Há a necessidade de formatar uma equipe, missão em que Micale se esmerou em duas semanas de treinos modernos.

Nos primeiros sete dias, trabalhou o ataque. Nos sete seguintes, organizou a defesa, que atuará a maior parte do tempo na altura do meio-de-campo, porque o técnico quer marcação forte na saída de bola dos rivais.

É bom.

Ainda que seja prudente lembrar que o Brasil de Micale perdeu a final do Mundial Sub-20 na prorrogação contra a Sérvia por causa de um gol de contra-ataque depois de bola perdida quando toda a equipe estava no campo ofensivo.

Micale tornou-se o namoradinho do Brasil. Todo mundo torce por ele, como não acontecia desde o primeiro dia de Felipão, em 2001. No segundo dia, o técnico não queria mais Romário e a lua-de-mel terminou. Com Micale, o seu desejo de ver uma equipe envolvente e ofensiva devolve o gosto por assistir à seleção que muita gente não tinha há tempos.

Esse combustível vai ajudar. A divisão com outras modalidades também pode diminuir a pressão pelo título, que atrapalhou em 2014. Esta avaliação é compartilhada pelo técnico Jurgen Klinsmann. No livro Das Reboot —Reiniciar— sobre a reconstrução da seleção alemã, Klinsmann cita o Brasil de 2014 ao falar do preparo psicológico que exigiu antes de disputar a Copa do Mundo como anfitrião, pela Alemanha em 2006. "O Brasil parecia querer solucionar todos os problemas do país dentro de campo e não suportou a pressão", diz Klinsmann.

Transformar craques em um time e fazê-los saber lidar com a obsessão da medalha vai valer ouro.

SALVOS
Corinthians salva Cristóvão das críticas, que têm mais a ver com a ideia de que não era o técnico ideal do que com seus erros. A diferença de pontos salva o campeonato. Na 17ª rodada, 11 pontos separam 1º ao 6º na Espanha, 9 na Inglaterra. Aqui são 4 pontos.

BAUZA BEM
O São Paulo não venceu a Chapecoense neste domingo (31), no Morumbi, pelo terceiro ano seguido, mas Bauza mostrou recuperação. Fez alterações no time e agrediu no segundo tempo, com quatro atacantes e Cueva como segundo volante. Foi o melhor em campo.


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