Folha de S. Paulo


O golpe

Quatro dias depois daeliminação da Libertadores, o São Paulo volta a jogar hoje, contra o Corinthians, sem Calleri nem Ganso, e com a chance de fechar a rodada 11 pontos atrás do líder. O retrospecto com Edgardo Bauza não anima em partidas fora de casa, e o São Paulo é o único dos grandes sem nenhum ponto nas visitas a Itaquera. São quatro derrotas em quatro jogos.

Logo depois da queda em Medellín, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, falou sobre o golpe provocado pela má arbitragem no processo de reconstrução do clube. Mas a derrota para o Atlético Nacional era previsível. O golpe poderia existir também sem os erros de arbitragem.

Porque a recuperação necessária no Morumbi não é simples. E fica mais difícil saindo da Libertadores, com as eleições se aproximando e a perspectiva de refazer o time todo durante o Brasileirão, pelas saídas dos dois melhores jogadores do primeiro semestre.

Calleri é o artilheiro na temporada 2016 e já se despediu do clube. Ganso chegou a acordo para ir ao Sevilla na sexta-feira (15) à tarde. A negociação foi difícil, mas fechada porque o jogador preferia a transferência. Água morro abaixo, fogo morro acima e jogador quando quer ir, ninguém segura.

Mudar a estrutura do time no meio do Brasileirão pode tornar a reconstrução ainda mais difícil. Há razões para os troféus não aparecerem e são alheias à gestão de Leco. Um ano e meio atrás, o São Paulo foi eliminado na semifinal da Copa Sul-Americana pelo mesmo adversário colombiano.

Em 18 meses, o Atlético Nacional manteve oito titulares daquele confronto. O São Paulo tem apenas três. O time de Medellín mudou de técnico uma vez. O São Paulo trocou Muricy por Juan Carlos Osorio, depois por Doriva, antes de contratar Bauza. O terremoto político explica tantas transformações.

O técnico argentino é ótimo para os mata-matas, ruim para as disputas longas de pontos corridos, porque desperdiça pontos em viagens. A vocação deste São Paulo não é ser campeão para encerrar a seca de oito anos sem o Brasileirão. Mais fácil apostar na Copa do Brasil para não provocar outro golpe, este ainda mais sério: o quarto ano consecutivo sem nenhuma taça.

Parece pouco tempo comparado às histórias de outros clubes, mas é o suficiente para acalorar o debate político.

Não deveria, porque hoje o São Paulo tem um plano em andamento para voltar a ser tão forte quanto foi na década passada.

A reconstrução conduzida por Leco e pelo diretor Gustavo de Oliveira passa pelo entrosamento entre o Centro de Treinamento da Barra Funda e o de Cotia, como jamais aconteceu antes.

Pela escolha de um estilo de jogo que permita voltar a ser competitivo, mas com a percepção de que a médio prazo poderá voltar a adotar um jogo mais espetacular.

Pela capacidade de gerenciar crises como a que tomou conta do elenco em fevereiro e parecia condenar o São Paulo a ser o pior brasileiro na Libertadores —foi o melhor.

A olho nu é difícil acreditar, mas a gestão avança. O problema é que os resultados não andam na mesma velocidade. Uma derrota para o Corinthians hoje pode tornar tudo ainda mais difícil.


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