Folha de S. Paulo


Ainda vai sangrar

Campeã mundial de amistosos, a seleção brasileira sofre nos jogos oficiais desde os 7 x 1 para a Alemanha. Já são 11, contando as eliminatórias e as duas Copas Américas. Só quatro vitórias, duas contra o Peru, duas contra a Venezuela. O empate com o Equador foi o quinto.

O sofrimento passa meio despercebido pela mistura com as partidas não oficiais. Nelas, a seleção de Dunga ganhou da Argentina, da Colômbia, da França, do Chile, da Turquia e da Áustria, todos entre os 20 melhores do ranking da Fifa.

Houve séries ruins parecidas na história. Logo depois da eliminação na Copa do Mundo de 1990, o Brasil viveu sua maior seca, com oito partidas consecutivas sem triunfos. Foram cinco empates e três derrotas. Não ganhava nem amistoso.

Em comum às duas crises, há o recomeço. Daquela vez, porque o Brasil tinha chegado ao fundo do poço, a pior campanha depois do vexame de 1966. Desta, o reinício de trabalho se dá pela perda de confiança nas velhas referências.

Há um ano, a seleção estreou na Copa América com três titulares dos 7 x 1. Se era para mudar depois do fiasco, já havia transformação em andamento. Em Los Angeles, no sábado, 355 dias depois, só havia quatro titulares iguais. O time contra o Equador foi o primeiro sem nenhum titular dos 7 x 1. Simbólico! Mas é ruim alterar sete jogadores no espaço menor do que um ano.

A comissão técnica julga que este é um preço a pagar. Os relatos de ambiente ruim publicados aqui há duas semanas são confirmados. Mas só no passado.

Editoria de arte/Folhapress

A informação dentro da concentração é que a enésima renovação fez o vestiário melhorar muito.

Filipe Luis deixou o Rose Bowl afirmando que o Brasil foi mais sólido defensivamente contra o Equador do que em outros jogos. Foi mesmo. Só que o ataque não tem inspiração e é um erro apontar para a falta de qualidade desta geração como a causa principal. Não é.

O problema é que a seleção recomeça a cada competição oficial. Na Copa América de 2011, havia nove convocados da África do Sul em 2010. Era o embrião de um grande time, com Ganso, 21, Pato, 20, Neymar, 19 anos. Dois anos depois, na Copa das Confederações, havia só dez convocados iguais. Nem Ganso nem Pato ficaram.

Então veio a ruptura com os 7 x 1 e apenas sete convocados iguais para a Copa América de 2015. O trabalho do ano passado já é novo outra vez. Como é que se vai montar um time?

Casemiro, Gil e Marquinhos foram os destaques do Brasil. O ataque sofre mais numa situação de eterno recomeço.

Na sexta-feira, começa a Eurocopa e pode haver outra novidade para nossa maneira apressada de ver o jogo. Nos últimos dez jogos, a Alemanha perdeu quatro vezes. A França só perdeu uma, como o Brasil.

A diferença é que a seleção de Dunga ganhou cinco –incluindo amistosos– e os franceses venceram nove vezes, o melhor desempenho entre todas as seleções do planeta –e é só a 17ª do ranking da Fifa. A elite do futebol está estreita. O Brasil continua nela, mas há uma quantidade de jogos difíceis muito maior do que havia no passado.

Em Paris, a palavra-chave para ser campeão europeu é répétition. No Brasil, a palavra é renovação. Outra vez. Mas o projeto não é ganhar a Copa América. É vencer na Rússia, em 2018.

PONTA

Todas as emissoras de TV têm escalado Tchê Tchê como lateral direito. Cuca, não. Ontem, o jogador vice-campeão paulista pelo Audax foi ponta esquerda para marcar Rodinei. Palmeiras poderá ser líder do Campeonato Brasileiro se vencer o Corinthians domingo que vem.

ALTOS E BAIXOS

Golaço de Vítor Bueno! E um jogo meio banho-maria no Pacaembu na manhã de domingo contra o Botafogo. Sem Gabriel e Lucas Lima, na seleção para a disputa da Copa América, o time perde muito. Mas está num lugar mais seguro da classificação do Brasileiro.


Endereço da página:

Links no texto: