Folha de S. Paulo


O valor do clássico

Edgardo Bauza não teve sete titulares na partida contra o Coritiba no meio de semana. Havia lesões e ausências forçadas, como a do lateral Mena, cedido à seleção chilena para a Copa América. Também jogadores preservados para o clássico de hoje, contra o Palmeiras.

A estratégia deu certo porque o São Paulo voltou do Paraná com um empate contra o Coritiba. No ano passado, Juan Carlos Osório escalou time misto contra o Goiás, na zona de rebaixamento, pensando no Flamengo, três dias depois. Levou chocolate dos goianos por 3 a 0 e caiu no Maracanã contra os rubro-negros por 2 a 1.

Bauza é diferente e entendeu a importância de vencer o Palmeiras. "Vocês pensam que não, mas acompanhamos o Brasileirão na Argentina", diz. "Sou são-paulino há muito tempo e sabe por quê? O São Paulo venceu o Newell's na final da Libertadores." A declaração é de quem tem o cordão umbilical no Rosario Central, rival eterno do Newell's Old Boys, derrotado na primeira conquista sul-americana do time tricolor.

Sobre o valor do clássico contra o Palmeiras, Bauza também tem percepção histórica: "Lembro o Palmeiras do Felipão. Como era forte!".

Preservar sua equipe em Curitiba não foi uma estratégia exclusiva para o Choque-Rei. Foi também por perceber como o calendário brasileiro desgasta.

Bauza espanta-se: "Os clubes argentinos jogam no máximo 60 partidas por ano." O São Paulo começou 2016 podendo jogar 81 vezes e hoje ainda pode alcançar 78 jogos. "Os treinadores brasileiros têm muita qualidade para trabalhar sem tempo para treinar".

Neste domingo (29), o Palmeiras tenta quebrar o tabu que já alcança 14 anos e 22 partidas sem vencer no Morumbi, 13 derrotas e 9 empates desde o gol de Alex em 2002. Bauza não fazia ideia desta escrita, mas entende a importância do jogo.

Para o São Paulo, mais importante do que manter a freguesia é vencer em casa –em 15 visitas desde a chegada do novo técnico, o tricolor só ganhou uma vez.

Para o Palmeiras, é a chance de alcançar a liderança, o que não acontece desde a 33ª rodada de 2009, quando perdeu para o Fluminense no Maracanã e o empate do São Paulo contra o Grêmio levou ao Morumbi a liderança isolada –o título foi do Flamengo quatro rodadas depois.

Nem todo palmeirense dá importância para o jejum de vitórias no Morumbi. Muitos nem sabem que seu time não vence na casa do rival há 14 anos. Alguns, sim, incomodam-se profundamente.

Para estes, há um símbolo em voltar a ganhar no velho palco de todos os clássicos paulistas porque a seca coincide com um período de hegemonia do São Paulo no Brasileirão e também com o declínio do Palmeiras pós-Parmalat.

De um ano para cá, é o São Paulo quem sofre contra o Palmeiras, com derrotas por 0 a 3 e 0 a 4 no Allianz e 0 a 2 no Pacaembu, mando são-paulino em território neutro.

Na casa tricolor seria mais relevante. No processo de reconstrução palmeirense, com sonho de voltar a ganhar o Brasileirão, já houve até troféu da Copa do Brasil. Mas vitória no Morumbi é artigo de luxo.

Para Bauza, perder em casa é pecado mortal. É nesses jogos que ele marca pontos. Mais do que ninguém, o argentino entendeu a importância do clássico brasileiro.


Endereço da página:

Links no texto: