Folha de S. Paulo


O convite

Washington Alves/Reuters
Lucas Pratto comemora um gol para o Atlético-MG
Lucas Pratto comemora um gol para o Atlético-MG

Lucas Pratto explicou na quinta-feira por que resolveu jogar no Brasil, quando foi convidado: "É o melhor campeonato da América do Sul." Mas o centroavante não estreia na primeira rodada, porque o Atlético privilegia a Libertadores.

Outros destaques individuais estreiam envolvidos em negociações. O Santos desmente ter recebido proposta da Europa pelo atacante Gabriel. Na segunda passada, havia a notícia de que o Borussia Dortmund pretendia contratá-lo. O empresário Wagner Ribeiro disse ter levado a oferta ao presidente Modesto Roma, sem revelar o clube. Modesto afirma não ter recebido nada.

História semelhante é a do zagueiro Felipe, do Corinthians. O Porto deseja comprá-lo, o agente Giuliano Bertolucci faz a intermediação e o Corinthians afirma que não chegou nenhuma oferta. Mas o zagueiro está encantado com a chance de jogar em Portugal... ops! com a possibilidade de atuar na Europa.

Estrangeiros querem jogar no Brasil, brasileiros querem ir embora.

O campeonato começa heroicamente em meio a todo este burburinho. Durante a semana, os assuntos foram Libertadores, transferências, impeachment... Daqui a dez dias, será a Copa América.

Só não se conversa sobre o maior campeonato do país –e da América do Sul, segundo Lucas Pratto.

Outra conversa no botequim foi se o Brasileirão registra um caso semelhante ao do Leicester. Já houve! Um time que briga num ano para não ser rebaixado e é campeão na temporada seguinte, como o Fluminense entre 2009 e 2010. Sim, há uma diferença: o Flu é grande e o Leicester pequeno. Mas aqui já se viu Coritiba, Atlético-PR, São Caetano...

Pouco a pouco, os jogos do Brasileirão ganham visibilidade na Europa e na Ásia, mercados indispensáveis para internacionalizar as marcas dos clubes. Hoje a televisão inglesa vai mostrar o teipe de Corinthians x Grêmio. Semana que vem tem jogo ao vivo lá.

Pouca gente se preocupa com isso aqui.

ENQUANTO ISSO...

O presidente da Liga MX, Enrique Bonilla, negocia com a Conmebol para seu país ter o direito de jogar a final da Libertadores em território mexicano e representar a América do Sul no Mundial se o campeão for de lá –o México tem tratamento de convidado e não recebe estes direitos.

Bonilla julga que a Libertadores ajudou a fazer seus clubes conhecidos na América, mas quer expansão para a Europa e Ásia. O Campeonato Mexicano tem média de 27 mil espectadores, inferior apenas a Espanha, Inglaterra e Alemanha.

No Brasil, os estádios enchem também. O Morumbi, na Libertadores, recebe 46 mil por partida. Mas o Brasileirão começa sem pompa. Hoje tem Corinthians x Grêmio, Botafogo x São Paulo e a primeira rodada não comove, porque não se promove.

Há outras razões para a abertura sem glamour.

Uma delas é o fato de o melhor campeonato do país começar quando se abrem as janelas de transferências da Europa. Um remédio possível é a inversão do calendário, proposta já rejeitada no comitê de reformas da CBF.

Não é inviável aumentar o interesse no início do Brasileirão sem inverter o calendário. O que não pode é o melhor campeonato nacional da América do Sul começar como se fosse um domingo qualquer.

Se vai haver uma festa, é preciso que as pessoas recebam o convite.


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