Folha de S. Paulo


Um time por jogo

Cuca é a diferença exata entre um técnico intuitivo e outro estrategista. Na véspera de sua apresentação ao Palmeiras, ele definia como queria sua equipe: "Nunca fui obsessivo pela posse de bola. Vamos escalar de acordo com cada partida." Escalado pelo lado esquerdo, como ponta, Zé Roberto marcava a saída de Fágner.

O lateral do Corinthians não jogou.

Os números ainda dizem que Fagner foi quem mais passes certos ofereceu no clássico, mas não conseguiu ultrapassar a linha do meio-de-campo, como faz em todas as melhores apresentações do Corinthians.

O plano de Cuca não parou aí. Arouca foi para o lado esquerdo, à frente de Gabriel, para marcar Elias. Gabriel protegeu a cabeça de área e Robinho cuidou dos avanços de Uendel. Quando o Corinthians não tem a saída de bola por seus laterais, o time desaba.

Gabriel Jesus na meia direita duelava com Bruno Henrique. Partia da meia direita para criar as melhores jogadas do Palmeiras. Até quando Tite trocou Elias por Maycon e isso obrigou a mudar o lado de Arouca e Gabriel Jesus. Nessa hora, o jovem atacante do Palmeiras caiu pela ponta e criou jogada para Alecsandro.

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É claro que a vitória e o fim do tabu de 14 dérbis sem vencer no estádio do Pacaembu não teriam acontecido se não fosse a atuação do goleiro Fernando Prass, mais uma vez decisivo numa cobrança de pênalti. Em dois jogos consecutivos, o Corinthians perdeu três pênaltis, com três cobradores diferentes —Rodriguinho, Romero e Lucca.

Marcelo Oliveira é o exemplar do treinador intuitivo. É bom e conquistou dois títulos brasileiros e uma Copa do Brasil, mas sempre apostou na capacidade de os jogadores entenderem-se sozinhos. No Cruzeiro, questionado sobre como realizava treinos para aumentar o entendimento entre Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, explicava com um exemplo: "Eles se conhecem pelo olhar, como Reinaldo e eu nos anos 70." Cuca aposta menos na química, mais no estudo.

No pouco tempo de treino nas últimas duas semanas, trabalhou o caminho da bola. Ela agora sai pelos zagueiros, volante e laterais. Na maior parte das vezes pelo chão. Não se angustia por não ter a posse de bola. Incomoda-se mais quando a equipe não reage ao desarme adversário com a imediata tentativa de recuperação.

Aos 20 minutos do segundo tempo, Gabriel Jesus foi desarmado na meia direita. Um triângulo vestido de verde partiu em direção ao volante do Corinthians para tomar a bola.

O clássico não serve ainda para dizer que o Palmeiras está melhor. Serve para perceber que os valores de Cuca começam a aparecer.

Jogar bem e ganhar do Corinthians é uma medida. Vencer o Rio Claro, não. Ainda é necessário um bom resultado contra o Mogi Mirim para garantir a classificação para as quartas-de-final do Campeonato Paulista e vencer o Rosario Central (ARG) para ter chance de avançar na Libertadores. Não é simples.

Nas finais da Copa do Brasil, o adiamento equilibrou as forças, porque o Santos piorou. O intervalo da Libertadores pode ter efeito semelhante. O Palmeiras esboça evolução. O Rosario Central não jogou bem suas últimas três partidas do Campeonato Argentino.

PELO MEIO

Guilherme ainda não se acertou no Corinthians e o time melhorou quando Giovanni Augusto deslocou-se da ponta para o meio. Quando os laterais não jogam, os volantes precisam ousar e a inversão de posições tem de ser a saída.

PELA PONTA

Muricy ainda não acertou o Flamengo e já mudou o sistema. Seu problema não é só o excesso de jogos e viagens e a consequente falta de treinos. Mas faz parte do cardápio. Nesta semana, dá tempo para treinar.


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