Folha de S. Paulo


Cada vez mais difícil

Se perder para o Paraguai na terça-feira, a seleção poderá figurar fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Só aconteceu uma vez. No final da terceira rodada das eliminatórias de 1994, a Bolívia tinha seis pontos, o Equador tinha quatro pontos, e o Brasil, três. Dunga era jogador da seleção. Hoje é o técnico.

Nem na assustadora eliminatória para a Copa de 2002, ano do penta, a seleção ficou fora da zona de classificação. O risco parecia passar longe no início do jogo na Arena Pernambuco, contra o Uruguai. Os primeiros 30 minutos foram animadores. O resto...

Às vezes parece faltar talento. Falta mais maturidade, entendimento do jogo. Depois de o Brasil marcar 2 a 0 em 26 minutos, o Uruguai trocou o nulo Cristian Rodriguez por Álvaro González, melhorou o sistema de marcação e mudou.

Mas, mesmo quando a seleção brasileira vencia na primeira etapa, tinha problemas.

Deu sorte de marcar com 40 segundos, antes de os uruguaios tocarem na bola. Depois, foi dispersivo no meio-de-campo e Neymar errou o lançamento, que deu certo para Renato Augusto driblar Muslera e marcar.

A equipe dá demonstrações de maior conjunto em alguns momentos. Com 2 a 0, recuou e passou a se defender num 4-1-4-1, como se fosse o Corinthians de Tite. Marcava forte, controlava a partida. Mas a geração de Neymar sente demais a reação do adversário quando ela se inicia. O gol de Cavani foi um exemplo. O Brasil murchou depois dele.

Pode não ser falta de talento, mas de personalidade. Em vez de se encolher quando sofre, um time campeão costuma estufar o peito, crescer. O Brasil diminui.

Não vai ser fácil vencer o Paraguai em Assunção, sem Neymar e sem David Luiz.

Mesmo com a lembrança de que Neymar não jogou bem no Recife e que David Luiz cada dia mais dá demonstrações de não ser o zagueiro que a seleção necessita. Um pecado escalá-lo ao lado de Miranda e ter Thiago Silva fora da convocação. Dunga tenta achar o melhor sistema e às vezes aproxima-se dele. Só que para isso esquece de convocar os melhores jogadores.

Também não é bom continuar com Neymar pelo centro do ataque. Não é onde ele se sente melhor e aqui não se discute privilégios individuais, mas ganhos coletivos. A verdade é que a seleção ainda não encontrou um centroavante capaz de dialogar e trocar passes com Neymar, mas escalá-lo no centro do ataque por causa desse problema é criar outro.

SUCESSO DE PÚBLICO

À parte a crise, há um número importante. Por mais que se diga que a seleção não encanta e que há tempos não seduz a torcida, o público desmente isso. Foram 43 mil pagantes e 45 mil presentes na Arena Pernambuco. Pode-se dizer que não é o tipo de espectador que costuma comparecer aos jogos dos clubes. Era semelhante a situação do Fla-Flu, domingo passado, no estádio do Pacaembu, sem a torcida comum de rubro-negros e tricolores.

A maior média de público do país é do Corinthians, com 32 mil por jogo em Itaquera. A seleção leva 40 mil em média às partidas no Brasil depois do fiasco do 7 a 1. É justo dizer que a torcida não vibra como se fosse de um clube. Injusto tachar a seleção de não ter uma torcida.


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